domingo, 20 de novembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Parte 7)

Talvez possa parecer estranho, mas quando Pedro tocou a campainha do meu apartamento, eu hesitei em abrir a porta. Via-o através do monitor do interfone, ele estava inquieto, um olhar preocupante, não sei o que teria para me dizer, eu é que não lhe queria contar nada sobre o meu dia.
Não abri a porta, mas nem é preciso dizer que em segundos o meu telemóvel estava a tocar, podia muito bem dizer que não estava em casa, ele não tinha como saber, não tinha acesso ao estacionamento, por outro lado, eu estava com vontade de mentir para o meu amigo de infância, e isso nunca tinha acontecido antes.
- Sim.
Tentei parecer o mais normal possível.
- Então Anabela, não estás em casa? Acabei mesmo de tocar na campainha do teu prédio, acabei por desistir, vim até ao café em baixo, está tudo bem?
Era mentira, ele continuava lá e dizia-me que estava no café, estávamos os dois a mentir, não sei bem porquê.
- Está tudo bem, não te preocupes, nem tenho dito nada, a investigação está em pausa, ando cheia de trabalho, sabes como é. Agora vim à casa do Fabrício, ele estava a precisar falar, anda novamente com problemas existenciais, aquelas coisas dele, sabes?
- Pois, esse homem passa a vida nisso, é como se a vida dele fosse a pior de todas, desilusões amorosas deviam passar rápido, mas ele deixa-se ficar nas recordações. Mas está bem, dá-lhe apoio, depois ligo mais tarde. Contas-me o que soubeste com o médico, o teu colega.
- Sim, sim, não te preocupes. Irei pôr-te ao corrente das novidades. Até logo. Beijo.
Desliguei, não me sentia bem, uma estranha sensação de desconforto apoderou-se de mim, eu menti descaradamente ao Pedro, à única pessoa que seria incapaz de mentir, pelo menos, até hoje. E agora o Fabrício, tenho de o avisar deste episódio não vá o Pedro falar-lhe disto. De repente, a minha vida estava a tomar um caminho sinuoso, até onde isto irá.

© Alexandra Carvalho








2 comentários:

  1. Eu arriscava dizer que o assassino é a filha ou o médico, mas é melhor não arriscar porque és bem capaz de voltar a surpreender, tenho seguido o novo romance. Muito bom. Como é possível escrever tão bem poesia e histórias que não têm nada a ver? isso é que é versatilidade e criatividade.

    ResponderEliminar
  2. Olá Carlos, obrigada pelo comentário, mas é preciso salientar que poesia intimista é uma coisa muito própria, escrevemos o que sentimos no momento, a dor, a alegria, o amor, e etc. Já nestas histórias gosto de dar largas à minha imaginação,aqui sim, trata-se essencialmente de criatividade. Ainda bem que estás a seguir.

    ResponderEliminar