sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Parte 9)


Daniela era conhecida de facto, mas nunca tive interesse em ver revistas cor-de-rosa, nem entrevistas superficiais, então, a cara dela passou-me sempre ao lado. Sabia que era muito fútil, estudou Direito, por obrigação, não tinha o menor interesse em algum dia vir a exercer, movimentava-se muito bem entre todos os círculos sociais, frequentava todo o tipo de eventos, bem, pelo menos aqueles que ela considerava dignos da sua presença.
Era uma mulher muito bonita, esbelta, elegante, tinha uns longos cabelos negros, olhos igualmente negros que contrastavam com a sua cor de pele branca, usava franja, desde pequena mantinha esse detalhe, o que lhe dava um ar diferente, de menina adulta.
A verdade é que quando ela se apresentou, o chão desabou, fiquei atónita, completamente sem reacção, mas o que é que esta mulher veio fazer a uma hora tão tardia ao meu apartamento, aliás, como é que ela sabe onde eu vivo?
- Muito bem, é a filha do jornalista. Mas o que eu não estou a entender é a sua visita. Um bocado fora de contexto, direi.
- Talvez numa primeira análise, mas depois de eu falar o que tenho para falar consigo, as dúvidas certamente se dissiparão.
- Se é para falar novamente da autópsia, digo desde já que não estou interessada em fazê-lo, já passaram meses, eu voltei à minha vida normal, finalmente, não estou interessada em fazer ressurgir problemas, como deve entender não tenho nada para falar.
- Você não, mas eu tenho. Antes de mais, já sei que anda muito próxima do meu namorado, o seu colega Ronaldo, ele não me disse nada, mas eu tenho facilidade em saber de coisas, principalmente quando me interessam. Existem várias vantagens de ser filha de gente importante, temos acesso a tudo, literalmente tudo, então nesta ilha, enfim, você sabe. Mas isso é o de menos, você falar com ele não me atinge muito, mas o teor das conversas já me preocupa.
- Que teor? Que tipo de conversa pode haver entre colegas? Trabalho, apenas.
- Não Anabela, você sabe que não. Mas eu também não pretendo aprofundar isso, eu vim aqui para lhe fazer um aviso.
- Um aviso? Isso é para tomar como algo negativo? Uma ameaça?
- É livre para entender como quiser. É um aviso bem simples de assimilar. Tenha muito cuidado com o que anda a tentar fazer, a tentar saber, mais cedo ou mais tarde, será descoberta, e tenho a plena certeza que você não sabe os problemas que isso vai acarretar para a sua vida. Tenha muito cuidado.
Disse aquilo, deu boa noite e foi embora. Perdi o sono, e a hora tardia já nem me importou muito, fiquei atordoada, com medo. Ela foi firme no que disse, ela sabe que estou a tentar descobrir mais coisas sobre a morte do pai dela. Mas afinal, ela veio ameaçar-me ou alertar-me? É a dúvida que permanece.

© Alexandra Carvalho

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