sábado, 23 de fevereiro de 2019

Uma espécie de carta de amor




Dei por mim a pensar que me estava a conter. A não usufruir do direito da liberdade de expressão. E porquê? Não há nada mais belo do que afirmar um sentimento que é puro.
Sabes a que sentimento me refiro? O sentimento que despertaste em mim?
Primeiro, falar-te-ei como me apercebi. Porque a história também está nos pequenos detalhes.
Chamou-me à atenção, inicialmente, a tua beleza física, mas esse, foi o primeiro quesito que deixou de ter importância mais cedo.
Dizias todas aquelas afirmações sobre mim, que primariamente, irritavam, depois passaram a fazer todo o sentido. Despertou-me o interesse, saber que eras diferente (embora em alguns aspectos, tão igual a todos os homens).
Foram passando as semanas, os meses, tivemos percalços, direi mesmo que estivemos na iminência de nos perdermos de vez. Acho que sabes e que sentes o mesmo! Não aconteceu. Reaproximamo-nos, com uma ligação que foi crescendo e tornando-se mais forte. Corrige-me se estou errada.
Veio o brilho no olhar. Que se tu não vias (não vês), todos à volta viam.
O olhar dela brilha quando está com ele, quando se aproxima, quando lhe fala, quando lhe sorri. Talvez, eu própria ainda não tivesse assimilado o facto, e todos, próximos a mim, já me tivessem diagnosticado.
Estava a apaixonar-me. Sim, leste bem, por ti.
No dia-a-dia fui constatando pormenores, coisas que se me afiguravam e inconscientemente, eu comentava, se ele visse isto, ou, quando ele vê algo do género diz isto.
Inevitavelmente, estava imersa em ti.
Lembras-te quando te pedi para me arregaçares as mangas, estava eu na tua cozinha, a lavar a loiça? Tu vieste e puseste-te atrás de mim, eu senti o teu corpo no meu, estremeci, toda.
Pensei, porque é que ele me faz isto? Não podias ter ido pelo lado, como toda a gente?
Quase, com os meus sentidos despertos, virei-me para ti para dizer, não consigo mais, beija-me. Não o fiz. Nesse preciso instante, relembrei uma mensagem tua a dizer-me, tu não tens hipótese comigo.
Dei um travão aos meus sentidos e pensei estar a dar também ao sentimento.
A base de tudo isto é a nossa amizade, a nossa ligação emocional, as nossas semelhanças que nos aproximam e as diferenças, que as conhecemos e aceitamos. A outra pessoa não tem de ser igual a nós, nem moldar-se a nós, para gostarmos dela, pelo contrário, tem de ser genuína, afinal, é isso que a diferencia, e é isso, que faz com que nos sintamos bem com ela.
Estes dias, tens reafirmado várias vezes, somos amigos, ela não conta porque é amiga, ou então, falas-me em engates. Não é fácil ouvir. Principalmente, porque a cada toque inocente teu, a cada olhar que me invade, eu me atrapalho, tal mulher apaixonada!
E não imaginas o que é sentir o simples toque do teu braço no meu!
Intimamente e conscientemente, sei que não me vês da mesma forma, ainda assim, sei que gostas de mim, pelos actos, pela tua disponibilidade.
Tenho ouvido os amigos próximos, as amigas, é consensual entre eles, afasta-te dele, ele não sente o mesmo e a cada contacto, tu envolves-te mais.
Não o fiz, contra tudo e contra todos. Já sabes que tenho a propensão de fazer o que todos os outros não fazem e ir por aquilo que penso e quero.
Mário Quintana diz: “A amizade é um amor que nunca morre”. E porque gosto de ter-te na minha vida, de todas as partilhas que fazemos, vou primar por isso, pelo amor que nunca morre.
Os amigos, mais uma vez, consensuais, acreditam que depois de confessar o que sinto, perderei a amizade, que tu irás afastar-te. Eu acredito, se te conheço, como penso que conheço, que irás frustrar as suas convicções. No entanto, perceberás que esta era uma confissão fundamental se quisermos subir mais alguns degraus do patamar que já estamos.
As amizades não prevalecem com sentimentos oprimidos ou reprimidos e com falta de verdade.
Em algum momento, eu deixaria de ter forças para combater o que sinto por ti e aí sim, a amizade morreria, para sempre.

© Alexandra Carvalho
12/11/2016