domingo, 23 de abril de 2017

A despedida começa agora

Fotografia de Rita Escórcio

Levei tempo a processar os meus sentimentos. Tinha quase como certo que te tinha superado, que havia chorado todas as lágrimas que me poderias provocar. Não chorei. Fui mascarando com sorrisos disfarçados, com certezas que afinal não eram fidedignas.
E o meu coração ficou amargurado.
Fugi até das palavras, elas levavam-me até ti, sabes? Eu não queria falar sobre ti. Que ingénua fui.
Evento atrás de evento, ou o teu nome ou a tua presença, confrontavam-me com factos, com a realidade. Alexandra, chora! Processa a dor!
Hoje disseram-me algo muito assertivo, “tu ainda não perdoaste, por isso é que ainda sofres”. E não perdoei a quem? A ti, por defraudares as minhas expectativas, ou a mim, por inequivocamente, me ter ludibriado com um sentimento inexistente?
Processei hoje, muito mais esta dor, do que lá atrás, quando a constatei.
Amanhã, saberei ver-te a passar ao lado, na estrada que continua a ser apenas minha, na estrada que tu apenas passas.

© Alexandra Carvalho

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Hoje pensei sobre isso. Sobre partidas mas que não são perdas. Nas minhas crenças encontramo-nos todos depois, no tempo certo de cada um. Mas ainda assim, pensei sobre isso. Que palavras ficariam por dizer? E percebi que muito poucas palavras ficariam no silêncio. E porquê? Porque quem eu gosto, quem gosta de mim, sabe desde sempre, que nas atitudes e no sorriso já digo o quanto os amo. E para mim, basta-me isso. Depois haveríamos todos de conversar sobre tudo o resto, no reencontro, na nossa casa.

© Alexandra Carvalho