quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Parte 5)

O Ronaldo é um ser humano confuso, não se trata de maneira nenhuma de um médico popular, em que os utentes encontram na rua e abordam, pelo contrário, mantém uma postura fechada, não socializa dentro do Hospital nem na Clínica onde trabalha a tempo parcial.
É um bom médico dentro da sua especialidade, neurocirurgia. A Ilha da Madeira é pequena, então torna-se fácil detectar os bons médicos em cada especialidade, uma vez que são praticamente uma minoria.
Diz-se entre os utentes que até nas consultas ele mantém-se demasiado sério, focaliza-se apenas nas questões centrais, que interessam no estado do paciente e não permite extravasar para outros temas que não lhe digam respeito.
Tive sorte, porque nesse mesmo dia encontrei-o num dos corredores do hospital, e por mais estranho que pareça, sorriu, um leve cumprimento, mas sim, sorriu.
Não foi de todo complicado travar conversa com ele, talvez entre colegas, o círculo de socialização não fosse tão fechado. Falamos de assuntos do hospital, a falta de pessoal que por vezes é visível, médicos em especial. E isto manteve-se alguns dias, em encontros casuais, no bar do hospital ou até mesmo no café ali perto, onde muitas vezes, a equipa médica vai, naquela necessidade de sair do espaço durante os períodos de lanche, ou simplesmente para tomar café, algo que acontece com pouca frequência, não há tempo que sobre num hospital.
Nunca demonstrei interesse em demasia para que o meu colega não percebesse que queria dele muito mais do que simples conversas. Mas a verdade é que em algum momento fui transparente e em pouco tempo a conversa que eu procurava simplesmente surgiu.

© Alexandra Carvalho

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