terça-feira, 15 de novembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Parte 3)

Antes de chegar à sala do Pedro, tenho de percorrer um corredor enorme com imensos gabinetes, passei-os todos e bati à porta.
- Entre – disse Pedro com a sua tão característica voz rouca e baixa.
- Olá, sou eu! Tens tempo para mim? São só uns minutos! Sim?
- Claro que sim, Anabela. Arranjo sempre tempo para ti. Mas diz lá, para te deslocares até ao meu escritório deve ser mesmo muito importante, detestas cá vir…!
- Pois é, e nem sei muito bem como começar, prepara-te!
- Vá, fala.
- Ouviste falar com certeza na morte do jornalista Tiago Fonseca?!
- Então não ouvi! Apareceu em todos os jornais e em todos os canais de televisão, para não falar do rebuliço que houve cá dentro! Uma morte estranha, digo eu!
- Também achas estranha?
- Sim, aquele ataque de coração não me convenceu minimamente. O homem era muito cuidadoso com a sua saúde e além do mais, horas depois da sua morte, um médico afirmou que aquilo era impossível, porque ele nunca teve problemas de coração, ou seja, tinha saúde para dar e vender! Contudo, ainda não acaba aí, porque com o desenrolar, tudo parou, e o médico surge novamente a dizer que era possível ter-se enganado, contraditório não?! Eu sou sincero, não me convenci, de qualquer forma não posso fazer nada, foi encerrado o caso, a família não insistiu… e esse também, quer dizer que partilhas da mesma opinião?!
- Exactamente, mas há um pormenor que desconheces, o corpo quando foi retirado da casa foi para o hospital, que é onde eu trabalho, imagina quem…
- Já percebi, foste tu quem fez a autópsia, e o que encontraste no corpo?
- Vou directa ao assunto, ele tinha vestígios de um veneno que provoca ataque cardíaco. É através de uma injecção e normalmente não dá para perceber que foi aplicada, mas neste caso deu, ainda mais porque ele tinha o braço ligeiramente marcado, deve ter tentado fugir mas não conseguiu. Enfim, é isto, tenho o resultado da autópsia comigo, é uma evidência. De seguida, aconteceu uma série de situações que provaram a minha desconfiança. Pedro, eu sei que é loucura, mas quero descobrir a verdade. Aconselha-me!
- Bem… é aliciante, até eu gostava de saber a verdade, mas é arriscado, mexe com gente importante.
- Achas que não sei que é arriscado?! Entende o meu lado, as pessoas deixaram de acreditar na minha capacidade como anatomista patológica, não leste os jornais, não viste televisão?!
- Não fazia ideia que eras tu, não mencionavam nomes, nunca vi a tua fotografia em lado nenhum, se soubesse talvez tivesse agido na altura.
- Não posso continuar assim, a minha vida desmoronou a partir deste caso. Eu tenho a certeza do que analisei, mas a família fez questão em me desmentir arranjando outro anatomista, provavelmente comprado ou chantageado, sei lá, mas também não interessa!
- Enganas-te, interessa muito. Se o médico foi chantageado, já temos uma ponta solta, torna-se mais fácil obter dados.
- Temos?!
- Já entrei no caso e podes ter a certeza que vou até ao fim.

© Alexandra Carvalho

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