domingo, 4 de dezembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Final)

- Sim, não foi assim tão difícil. Não para mim. Foram duas pessoas, cúmplices, uma deu a ideia, a outra executou.
Duas pessoas, meu Deus, a Daniela e o Ronaldo? Que ingénua que fui, como é que não pensei nisso, mas ele parecia tão legitimamente boa pessoa.
- O meu colega e a filha, só podia.
- Eu lamento muito Anabela, porque eu percebi que estavas a simpatizar com ele, que te estavas a envolver até. Mas fazia tudo parte do plano. Mas não foi a filha.
Hummm, não tinha sido a Daniela? Mas então aquela visita tinha sido um alerta, não uma ameaça, ela também sabia, agora consigo perceber.
- O plano foi todo elaborado pelo Ronaldo e a mãe da Daniela, a Dona Alzira. Há algum tempo atrás, o Tiago encontrou-se com a minha mãe, por acaso, e daquele encontro a verdade veio à tona, ele ficou a saber que tinha um filho. Uma pessoa da sua condição social, podia ter deixado ficar tudo como estava, não havia necessidade de remexer em feridas antigas, mas pelos vistos, ele era boa pessoa. Quis assumir a minha paternidade, e isso incluía, fazer-me como herdeiro. É óbvio que a ex-mulher dele, uma pessoa do campo, que cresceu com pouco, que se tornou uma dama da alta sociedade à custa do trabalho e da fama do marido, não estava disposta a partilhar a riqueza com um filho bastardo. A Daniela, é uma rapariga fútil, jamais consideraria fazer parte de um plano que matasse o pai, que ela tanto idolatrava. Mas o Ronaldo, era uma boa opção. Um homem de poucas emoções, desligado do mundo das afectividades, e que ainda por cima é médico. E por sinal, um médico ambicioso, porque ele não ama a Daniela, envolveu-se com ela, pelo dinheiro do pai. Os dois confessaram, porque eu confrontei-os num encontro um bocado suspeito, eles confessaram, mas a verdade é que não tenho provas. O caso vai cair no esquecimento.
- A Daniela sabe? Porque ela veio cá e falou-me cá umas coisas, como se estivesse a alertar-me, para deixar tudo como está.
- Sim, ela descobriu. Mas a Daniela é uma pessoa diferente, ela não consegue ser má. E se já perdeu o pai, não quer perder a mãe, apesar de tudo. É daquelas pessoas que prefere estar acompanhada de pessoas que lhe fizeram mal, do que ficar só. Mas é boa pessoa, acho que essa é a única coisa boa de ter descoberto que tenho um pai diferente. Ganhei uma irmã.
Naquele momento, senti um alívio. A verdade tinha sido desvendada, a minha análise estava certa, e apenas saber disso, já me reconfortava. Lamento, pela minha ingenuidade, lamento por ter desconfiado do Pedro, e por momentos, ter-me deixado envolver por um homem frio e calculista como o Ronaldo.
Nem todos os crimes são desvendados, nem todas as pessoas criminosas são descobertas, e este homicídio jamais seria desvendado, apesar disso, não me importava mais, o trabalho estava a correr bem, as pessoas tinham esquecido, a minha vida tinha voltado ao que era.
No fundo, só importava uma coisa, o Pedro e a nossa amizade sem limites, e isso, bastava até ao fim da nossa vida.
Este era o sabor da vida.

© Alexandra Carvalho

1 comentário:

  1. Muito bem, um final sereno apesar de não se ter feito justiça...gostei. bjs

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