sábado, 3 de dezembro de 2011

Palácio da Solidão

Estava ali, no meu palácio da solidão, apenas eu. Sonhava, imaginava que estava rodeada de gente, que me sorriam, que no fundo gostavam de mim. De repente tudo desaparecia, eram ilusões, ilusões que eu precisava à força que se tornassem reais. Por vezes perguntava a mim própria porquê que eu sonhava com coisas que eu sabia impossíveis. No fundo já sabia a resposta, era a solidão, aquela solidão que me matava por dentro. De que servia a riqueza? Sim, servia ou tinha servido para trazer à minha vida a infelicidade, a solidão e até o desespero. Matei-me, já não vivo, estou presa entre as paredes frias da minha própria casa.
Há muito tempo fui feliz, quando foi isso? Já não me recordo da data, já faz tanto tempo, uma eternidade. Mas sei que fui feliz, tive amigos, família e alguém que me amava, tudo isso desapareceu. Tudo perdi e tudo ganhei, perdi a amizade, o amor e até a minha dignidade, ganhei a riqueza, a infelicidade e a morte.
O outro mundo chama-me todos os dias, resisto à tentação apesar de todo aquele sofrimento que suporto, mas talvez ainda haja uma oportunidade, será que a mereço? Não, sei que não a mereço e também não deve ser tão doloroso morrer se já vivo na morte?!
Vendi tudo aquilo que tinha e dei a instituições de caridade tudo o que obtive das vendas. Estou pobre, pensei, não faz mal, fiz algo de bom pelo menos uma vez na vida. Será que me reconhecerão por isso? Não, sei que não, provavelmente irão pensar “agora que se sente só faz boas acções para impressionar os outros, é bem hipócrita ela”. Não os censuro por pensarem isso, eu fui hipócrita, fui arrogante , tudo, mas agora não, já percebi que a riqueza não compra a felicidade, eu com toda aquela riqueza apenas comprei a minha morte.
Finalmente morri, não no meu palácio da solidão porque também esse vendi, mas debaixo do alpendre da primeira casa que encontrei.
Morri na solidão.


 
© 1998 Alexandra Carvalho 








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