domingo, 4 de dezembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Parte 11)

O dia do confronto chegou, cheguei a casa e o Pedro estava sentado nas escadas que vão dar à minha porta, alguém entrou e ele aproveitou para subir, era frequente acontecer isto. Olhei para ele, estava com aquele sorriso maroto, o sorriso de sempre, o que me habituei a ver no seu rosto. Primeiro, parei e fiquei a olhar, acabei por sorrir, e naquele momento não foram precisas palavras para perceber que a conversa que se seguiria seria fulcral.
- Chegou à hora de te contar coisas da minha vida que não sabes, acontecimentos que me fizeram sofrer e que nunca achei que fosse correcto te contar, dar-te para cima das costas mais peso, o peso da minha dor. – Ele estava a sofrer, via isso tão claramente.
- Não sei do que se trata, mas tenho a certeza que é algo sobre a morte do jornalista, ou apenas sobre ele. Ali fora, quando olhei para ti, eu vi o meu amigo, a pessoa em quem mais confio, totalmente transparente, com uma necessidade visível nos olhos de se libertar. Por isso, fala, fala sobre tudo, desde o início. Porque de ti só espero a verdade.
Eu sentia a minha voz trémula, como se sentisse, mesmo sem conhecer, a dor do Pedro, como se aquela dor estivesse a fervilhar nas minhas entranhas. Mas tentei manter-me firme, por ele, para que conseguisse despejar cá para fora toda a dor que o atormentava, todas as verdades que deliberadamente deixara longe de mim.
Olhou pela janela da sala, olhou em redor, parecia tentar encontrar as palavras certas para começar a falar, ou talvez, estivesse a ganhar energia para falar sobre o que me tinha escondido. Finalmente, olhou para mim e soube que estava preparado, as mentiras iriam dissipar-se, o pano ia cair, será que o seu segredo, era o motivo da minha queda profissional, será que de alguma forma, o Pedro estava envolvido? Todas as respostas seriam respondidas, e eu estava com medo do que ia ficar a saber.

© Alexandra Carvalho



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