domingo, 4 de dezembro de 2011

O SABOR DA MORTE (Parte 12)

- Não sei bem por onde começar. Tu conheces-me há muitos anos, cresceste comigo, de certa forma conheces toda a minha história, excepto uma parte, porque não sou eu o único protagonista. Não me achei no direito de dizer, apesar de seres a minha melhor amiga, primeiro, porque isto foi uma descoberta recente, que me magoou muito, segundo, porque a minha mãe também é uma das envolvidas.
- A tua mãe? Agora eu não estou perceber nada, o que ela tem a ver com o Tiago Fonseca.
- O Tiago Fonseca é meu pai.
Fiquei em choque, completamente em estado de choque. Pai? Mas como? Parece-me tão surreal e descabido ao mesmo tempo.
- Espera, acho que estou com dificuldade em processar essa informação. Como é que ele é teu pai? Como é que nunca soube disso? Como é que foste capaz de lidar com toda esta situação da morte dele, sem me contares nada? Não percebo.
Para além do choque, eu estava decepcionada, ele não podia ter feito isto, me esconder uma coisa destas. Principalmente quando ele sabia que eu estava envolvida no caso da morte do pai.
- Anabela, pára e pensa na minha posição, eu soube disto há pouco tempo, além do mais ainda não sabes tudo, não fales ainda. Ouve-me.
- Pronto, tens razão. Fala.
- A minha mãe antes de tirar o curso superior, sabes que ela foi estudar tarde, os meus avós não tinham grandes possibilidades financeiras, e ela acabou por precisar trabalhar para angariar dinheiro para poder estudar. Na altura, trabalhou como administrativa numa loja de tintas lá na Ribeira Brava. Nessa época conheceu o Tiago Fonseca, já era licenciado em jornalismo, acho que tinha começado a trabalhar há pouco tempo no Continente, apareceu numas férias lá na loja. Acabaram por se envolver, mas a minha mãe já namorava com o meu pai, ou melhor, com o Rui. Como deves imaginar, naquela altura as coisas eram complicadas para uma mãe solteira, ainda hoje é, imagina então naquela época. Ela arranjou forma de acelerar o casamento com o Rui, ele era apaixonado, completamente apaixonado, não foi difícil convencê-lo a casar mais cedo. Claro, o motivo principal era a gravidez, era eu, que vinha a caminho. Um filho de uma aventura com um jornalista de futuro promissor.
Não foi, afinal, tão difícil perceber o porquê dele me ter omitido aquela descoberta. Veio a desestabilizar a imagem perfeita que Pedro tinha da mãe. Não era de todo fácil admitir isso.
- Pedro, mas eu estava aqui, podias ter falado, eu ter-te-ia apoiado.
- Talvez, mas foi na mesma época em que me propus ajudar-te na investigação que eu soube disto. Como é que ia dizer que aquele homem era o meu pai. Por isso, deixei passar um bocado, sozinho fiz algumas investigações, afinal, querendo ou não, aquele homem era o meu verdadeiro pai.
- Tu já descobriste, não já? Tu sabes quem foi. Consigo ver isso no teu olhar.

© Alexandra Carvalho











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