As pessoas entram e saem da nossa
vida a um ritmo estonteante. Algumas permanecem. Os papéis entrelaçam-se mais
tempo e somos necessários na vida um do outro.
Ficamos por tempo indeterminado.
Nem sempre é fácil perceber o que
é que aquela pessoa faz ali, porque continua ali, como nem sempre é fácil
perceber porquê que aquela pessoa, em particular entrou na nossa vida.
Mas hoje reflectirei apenas na
tua pessoa.
As tuas crenças e/ou ideologias
não se coadunam com as minhas, ainda assim, por um determinado papel, tu
inevitavelmente, entraste na minha vida.
Não escrevo especialmente para ti,
antes que atribuas uma importância irreal às minhas palavras. Eu escrevo.
Ponto.
Questiono essencialmente as
emoções, as vivências que vão construindo a minha história.
Não sou uma pessoa fácil, nunca
fui. O que é certo num dia, deixa de o ser no outro. Não sou constante e tenho
dificuldade em aceitar comportamentos padronizados, que resvalam na banalidade,
e acima de tudo, na futilidade.
Afasto-me deliberadamente de tudo
o que não me apraz. De tudo e de todos. Isolo-me não raras vezes, para poder
voltar ao meu eu original.
A sociedade gosta de corromper,
de aliciar para o que não somos.
E se a mente estiver fraca, somos
facilmente corrompíveis.
Costumo dizer que trago em mim
toda a insatisfação do mundo. Condensada numa mente que considera ser pouco o
que aqui vivemos. A pequenez de sentimentos ultrapassa-me, ultrapassa a minha
acepção do que é viver, do que é amar.
Ultrapassa-me que aceitemos que o
ser humano é básico, e que gosta de ser assim.
Quando esbarramos em seres
humanos que nos parecem familiares, semelhantes a nós, olhamos com mais
atenção.
De miúdo, irmão mais novo da
antiga amiga de infância, facilmente saltas para o papel de um semelhante. Pela
estranheza que reconheci imediatamente.
Não me ocorre, por ora, o papel
que é suposto teres na minha história, ou eu na tua.
Todavia, identifico com clareza
as nuances da minha inconstância, perante o confronto da tua insensibilidade.
Num dia és o semelhante, no
outro, um ser humano básico que pretendo deixar para trás.
A tua insensibilidade, em forma
de palavras, remete-me para um eu que não deseja deixar-se afectar pela não
reciprocidade, como antes acontecera.
Não terei definido ainda o teu
papel, mas certamente encontrei uma das tuas funções, ensinar-me a arte do
desapego e da liberdade. A liberdade de reconhecer e aceitar que nem sempre os
sentimentos serão recíprocos mas que apesar disso, podemos continuar a sorrir.
Porventura, a esta altura já
estaria eu noutro patamar evolutivo, e a tua interferência apenas veio enfatizar
esse facto.
Numa fase mais descontrolada e
inconstante, certamente já te teria varrido de todas as minhas redes, pessoais
e virtuais.
Não o fiz, nem vou fazê-lo por
tais motivos.
A tua primeira função
considera-se executada, permaneço, no entanto, no caminho da aprendizagem e
evolução.
© Alexandra Carvalho