A noite caía e ele a pensar nela,
o dia clareava e ele continuava a pensar nela.
Tão enfeitiçado que estava.
Mas não podia pensar nisso, havia
atrelado a ele, o peso da responsabilidade de um relacionamento. Uma outra
mulher estava ligada a ele. Uma ligação já tão ténue mas ainda assim,
existente.
Mas que fazer, se os pensamentos
levavam-no sempre para o rosto que não era o que estava ali ao seu lado.
Dava consigo a pensar no sorriso,
que de resto, tinha sido o que o atraiu primeiro.
Aquele sorriso puro,
desinteressado e apaziguador. Mas se começou pelo sorriso, não tardou que o
olhar o perseguisse também.
O olhar que o desarmava, como se
de um raio X se tratasse.
Era desnecessário dizer que a
queria, aquele olhar já o sabia, soube logo. Soube e manteve-se indiferente. Olhava-o
de relance e bastava isso para o manter deliciosamente encantado.
Havia dúvidas que ela o quisesse
também.
Ocasionalmente passava ela de
carro, pela rua da sua casa, e na sua ingenuidade pensava ele, que era
intencional aquela passagem.
Ingenuidade e utopia, a casa
localizava-se na estrada principal por onde ela teria inevitavelmente de
passar.
Todavia, mantinha a doce ilusão
que ela apenas passava para o provocar.
Estaria ele a apaixonar-se por
aquela mulher desconhecida que mal lhe dava atenção, ou estava ele cansado
daquele amor que há muito havia deixado de o ser?
Confundiam-se as coisas na sua
cabeça, só tinha a certeza de uma, queria-a e iria tê-la.
© Alexandra Carvalho