Imagem retirada da internet |
- Carlinha, é tempo de ir embora.
Sabes bem.
- Sei, as malas estão prontas, as
pernas já pedem para andar, mas o coração ainda não me deixa ir embora.
Carlinha, no auge da sua mocidade
via-se confrontada com a despedida. Ia embora. África do Sul estava à sua
espera.
Os pais iam à procura da vida que
a terra natal não lhes podia dar.
Mas, pensava Carlinha, que tipo
de vida iria ter num lugar desconhecido, com uma língua ainda por aprender?
Era tempo de ir embora, bem o
sabia, mas o que deixava para trás, sentia ser muito maior do que qualquer
vida, que poderia viver lá.
- Carlinha, não vamos para
sempre. Se Deus for bom connosco, voltaremos um dia. Vais conhecer amigos lá,
és uma boa menina, talvez até te cases por lá.
Coitado, José falava apenas para
reconfortar a sua filha única, o tesouro mais precioso. Mas o medo, também ele
o sentia.
José não tinha estudos, o País
não lhe dava trabalho, era preciso ir embora. Guardar as lágrimas apenas no coração,
manter as saudades longe e ganhar coragem. Uma nova batalha avizinhava-se para
todos.
Carlinha, porém, não estava
convencida, tinha 17 anos, e via-se obrigada a esquecer as suas paixões, as
suas amizades, a sua língua.
Iria seguir os pais, era incapaz
de não fazer. Não queria ser mais uma filha deixada ao cuidado dos avós, como
tantas outras. Não, ela iria.
Maio de 1930, o mês e o ano que
jamais irá esquecer.
O fim de uma história e o início
de outra.
Mais uma família que partia com o
coração apertado.
Apesar disso, eram tão só, três
cidadãos para acrescentar à enorme lista da emigração portuguesa.
Terá o País sentido falta deles?
© Alexandra Carvalho
Descendo de portugueses, que emigraram de Portugal para o Brasil, no século XIX. Não sei se o País sentiu a falta deles, só sei que tenho muito orgulho de ser uma de seus descendentes.
ResponderEliminarBonita mas triste crônica. É muito doloroso, deixar a sua terra.
Um abraço,
da Lúcia
Afinal sempre fomos um país de emigrantes, parece que sempre esteve melhor fora do que aqui.
ResponderEliminarGostei,
beijinhos
A história da emigração. Quando o nosso país não nos dá futuro nem pão as pessoas buscam outras paragens.
ResponderEliminarDói-nos a saudade e os familiares que não podem ir.
Dói-nos o amor ao nosso recanto que nos viu nascer, mas com esta politica ninguém resiste e hoje já não partem só os iletrados, vão os médicos e engenheiros e um dia seremos um país de estrangeiros que vão comprando os nossos campos...
depois de ler.
ResponderEliminarsaio com um aperto no peito.
em época alguma ninguém devia ser "obrigado" a sair da sua terra.
muito comovente
Beijo
Inventei a ironia numa toada de vento
ResponderEliminarRoubei as asas a uma gaivota azul
Colei-lhes um poema cheio de penas
E enviei-o para uma tonta do sul
Inventei um mar numa bola de sabão
Roubei uma corda forte e boa
Atei um rol de mágoa à mesma
E afoguei-as nas águas de uma lagoa
Bom fim de semana
Doce beijo
A emigração por opção é uma coisa, mas por necessidade, pode ser uma tragédia. O que os portugueses passaram nos anos 50 e 60 do século passado, por exemplo, não é nada agradável...
ResponderEliminarMagnífico texto, gostei muito.
Alexandra, querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.