A minha irmã vem este fim-de-semana à Madeira, e estou eufórica com isso, pelas saudades e também pela agitação que esta visita irá provocar na minha vida tão monótona ultimamente.
A Alaíde é uma miúda especial, uma miúda já com 27 anos, mas para mim que a vi crescer, é como se ainda fosse muito novinha e ainda precisasse muito de mim. Temos uma diferença razoável de idade, 10 anos. Quando ela nasceu eu já era crescida, ou pelo menos, gostava de pensar assim, fiz questão de ajudar na sua evolução como ser humano, penso que consegui fazê-lo muito bem, ou não seria ela uma pessoa tão sensível e solidária.
As escolhas do ser humano dependem sempre de coisas diferentes, e no caso dela, o amor é que a fez decidir que caminho tomar, optou pelo Continente.
Esta distância não me agradava muito, a minha irmã era a minha principal companhia e a mais importante. No entanto, eu sentia-me feliz por ela, porque tinha tido a sorte de encontrar um amor que seria para a vida toda, uma pessoa que a completa a todos os níveis e que a faz feliz, isso é de facto o mais importante. É claro que ela também teve sorte, por ter arranjado um bom emprego lá, na sua área de formação, o que é cada vez mais complicado dado a crise financeira que Portugal tem vindo a atravessar.
Desta vez o namorado não vinha, era um fim-de-semana de irmãs, para conversarmos sobre as novidades, para desabafar sobre os altos e baixos das nossas vidas. Por um lado, estava contente com o facto de vir só ela, tinha tanta coisa para contar, tinha o Afonso agora a frequentar os meus dias, os meus pensamentos e alguns desejos.
Esta sensação era nova, uma pessoa diferente, que sem saber muito bem porquê, conseguiu cativar-me de uma forma mais suave, sublime. Não era a parte física que sobressaía, era tudo muito mais emotivo e sentimental. Seria mais um fracasso a caminho? Era um risco que eu precisava tomar.
- Já sei que se passa qualquer coisa, basta olhar para ti. Estás com aquele olhar de quem quer falar mas não sabe por onde começar.
Alaíde conhecia-me o suficiente para perceber através da minha expressão que vinham novidades a caminho. Eu sentia-me inibida para falar porque o Afonso transmitia algo ambíguo, e conhecendo a minha irmã como conheço, vai-me dizer na hora que tenho de fugir de outro filme amoroso.
- Conheci alguém, não no sentido amoroso. Encontrei-o casualmente, por duas vezes, trocámos algumas palavras, não é de cá. É de Trás-os-Montes, que coincidência tremenda, perguntou-me se eu conhecia, não lhe disse que sim... Chama-se Afonso, e antes que me perguntes a idade, não faço ideia, parece mais velho do que eu, e ao mesmo tempo, parecemos da mesma idade.
- Mas porquê? Porque tem cabelos brancos e tu não?
- É complicado explicar, se olhares para ele, sem o observares atentamente, és capaz de dizer que é pela minha idade, mas observando, há qualquer coisa no olhar, é contraditório com o físico dele. A alma é mais velha, o corpo é mais novo.
- Estás completamente louca, aposto que estás a passar muito tempo aqui, não tens socializado? O Funchal é bem perto, a civilização está ao teu alcance. Mas não te preocupes, porque vamos sair este fim-de-semana. Quem sabe não conheces alguém interessante e menos misterioso.
© Alexandra Carvalho
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