domingo, 14 de agosto de 2011

Oscilações e Desencontros (Parte 2)

Vi-me novamente na minha rotina aborrecida, os meus dias limitavam-se ao trabalho e à minha casa. Afinal sentia-me estranha na minha própria terra. Conhecia muita gente, vizinhos, conhecidos, pessoas com quem tinha conversas casuais na rua ou no café. Mas isso não me satisfazia. Tive vários amigos, aqueles com quem cresci, com quem brinquei em criança, e posteriormente os amigos feitos no meu tempo de universidade, no Continente, essa tinha sido a minha melhor época. Mas o tempo passa e cada um de nós foi atrás do caminho que acreditávamos trazer a nossa felicidade. Talvez para alguns trouxe, para outros nem tanto. Mantinha o contacto sempre, mas o facto de viver na ilha da Madeira, condicionava até a amizade. Ou porque não havia tempo de ir vê-los, ou porque a situação financeira também não permitia estes encontros, e isto, aplicava-se a mim e a eles.
Talvez porque me sentia só e os recentes relacionamentos amorosos tinham falhado totalmente, aquele encontro no miradouro trouxe algo de novo para os meus dias, comecei a ter vontade de o ver, de o encontrar na rua, por acaso, num dia qualquer. Mas isso não aconteceu, provavelmente não era de cá, não vivia perto, mas se assim fosse, porque é que ele me tinha dito que aquele miradouro era o seu refúgio? Já nada fazia sentido, e decidi não pensar mais, a vida continuava, mesmo sem ter qualquer graça.
Da mesma forma inesperada que o encontrei na primeira vez, voltei a encontrá-lo na segunda.
Mesmo à saída da minha casa, lá estava ele, sentado novamente, num dos bancos do pequeno jardim da freguesia. Senti um impulso forte e não resisti passar sem cumprimentar, ainda que não soubesse se ele relembraria do meu rosto.
- Boa noite – senti-me ridícula naquele momento, no entanto, já tinha falado.
- Não sabia que vivia aqui perto do jardim, este é outro dos locais por onde costumo andar – a sua voz continuava doce e suave, mas desta vez parecia estar mais confuso, mais solitário.
- Se este é um dos seus locais preferidos, confesso que nunca o vi por cá. Provavelmente, temos horários diferentes. Mas já agora que o encontro, no outro dia nem perguntei o seu nome, e se é de cá? É madeirense? Eu sou a Rafaela. – Pronto, decidi fazer um interrogatório, agora o homem não aparece mais para não voltar a ser incomodado.
- Se sou de cá, essa não deixa de ser uma pergunta interessante, ao tempo que ando por cá, que sim, já me considero daqui, mas na realidade nem sou madeirense. Sou de Trás-os-Montes, conhece? Sou de uma daquelas terreolas pequenas lá para cima, mas estudei economia no litoral, e acabei por vir parar à Madeira. Quando acabei o curso havia algumas vagas para a Câmara Municipal do Funchal e fiquei até hoje. Ah, e chamo-me Afonso.
Estava ali a ouvi-lo deliciada, ele falava das coisas de uma forma tão apaixonante, que aquele nem parecia ser um assunto tão banal. Eu conhecia Trás-os-Montes, aliás, fiz todo o meu percurso universitário lá, mas optei por não referir isso, pensei que ele pudesse achar coincidência a mais, que eu estaria a inventar só para termos algo em comum. Falamos durante vários minutos, longos minutos que eu desejava que durassem muito mais tempo. Isso era impossível, pelo menos naquele momento, tinha o trabalho a chamar-me, e logo eu, que sempre fui uma funcionária pontual, atrasar-me poderia significar muita coisa.
Não lhe fiz mais perguntas, já sabia que mais cedo ou mais tarde iria encontrá-lo, afinal, os lugares que eu frequento também eram frequentados por ele, numa terra tão pequena seria impossível não esbarrarmos outras vezes. Incomoda-me pensar sobre isso, eu vivo aqui há tanto tempo, como é que nunca o vi, se ele diz que costuma estar no jardim em frente à minha casa, será que estava tão envolvida nos meus dilemas e devaneios que este homem me tenha sido invisível?!

© Alexandra Carvalho








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