terça-feira, 27 de dezembro de 2022

 

Sempre tive alguma dificuldade em lidar com a incerteza. 

2022 está no fim e vejo-me confrontada com a entrada em 2023 com um rumo ainda por definir. 

2023 como todos os anos poderá trazer uma série de eventos novos. É assim que deve ser. Não sabemos nunca o que os dias nos reservam, o que as nossas escolhas irão despoletar. 

Ainda assim, o normal, muitas vezes, é o primeiro dia do ano ser uma continuidade do último dia do ano cessante. 

Desta vez não será assim. Literalmente. 

Não sei muito bem o que fazer com esta sensação de inquietude.

Peço contudo, discernimento e harmonia espiritual para saber viver a incerteza. 


© Alexandra Carvalho

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022


 

Este foi provavelmente o ano que menos me dediquei à escrita.

Andei embrenhada em outras áreas de interesse, dediquei-me a outros projectos de maior relevo, não que este também não seja de extrema importância.

Escrevi pouco, mas fiz grandes reflexões em silêncio.

Sempre senti que só me libertava das angústias ou das dores emocionais quando escrevia, quando explanava para o papel tudo o que me ia na alma.

Entretanto, fui percebendo, que há mais formas de lidar com a vida e que na verdade, escrever por vezes, trazia um drama maior do que de facto existia.

Mas, penso que qualquer pessoa que escreva, é um tanto ou quanto dramática.

Amplificamos tudo o que nos acontece.

É a nossa forma de experienciar as emoções.

E a vida sabe melhor assim.

No drama encontramos a nossa essência maior.

2022 não me trouxe muitas palavras escritas. Mas agora no término deste ano, dei por mim a repensar todas as minhas acções, todas as minhas vivências.

Um ano de altos e baixos. De crença e de descrença. De certeza e de incerteza.

Certo é, que a nossa vida é ambígua, nunca nada é tão garantido nem tão linear. Tal como nós.

Acabo 2022 como comecei. Pedindo força ao Universo para me manter numa trajectória do bem, que os tropeços da vida não me façam deixar de ser quem sou. A pessoa, que todos os dias, trabalha para ser melhor, um ser humano melhor.

Se tiver que chorar, que seja, desde que tenha o discernimento para perceber o porquê dessa emoção e que nenhuma aprendizagem seja em vão.

Que 2023 traga o que tiver de trazer, seja lá o que esta alma precisar de viver.

É altura de percebermos que tudo o que nos acontece, não é por mero acaso. Nós não viemos para este lindo planeta Terra apenas por vir. Viemos porque há missões que temos de cumprir, lições que precisamos aprender.

Mas acima de tudo, viemos para nos tornarmos melhores, connosco e com os outros.

Feliz 2023.

© Alexandra Carvalho

08-12-2022

terça-feira, 29 de novembro de 2022

 Ao som de Tindersticks, a banda que mais me acompanhou na adolescência e 

juventude, dou conta das grandes mudanças que a minha vida teve nos últimos anos.

Tindersticks, remete-me para a intensidade dos amores e desamores que a vida 

me presenteou, a intensidade de todos os sentimentos que aceitei viver.

As dúvidas que me assolavam à época e estas novas, que nada têm a ver com as 

antigas, pedem-me para visitar o passado, entender a trajectória e perceber o lugar 

onde estou agora.

Preciso ir ao passado para viver o presente.

Deixo sincronizar o meu antigo eu, com todas as suas histórias, com o novo eu e 

confio que a sincronização cumpra o seu propósito.

Arrumo os grandes eventos, bons, menos bons, num pequeno espaço das minhas 

memórias.

Agradeço toda a aprendizagem que generosamente me deram.

Com menos lágrima ou mais, com menor desassossego ou maior, tudo numa 

simbiose perfeita, criou os alicerces da minha actual existência.

E não posso ser mais nada, senão grata.

Estou, porventura, pronta para as novas aventuras que este novo eu, precisa viver.

© Alexandra Carvalho

14/09/2022


 Este verão tem sido pintado de cinzento e é este tom que todos os dias vejo de manhã antes de sair de casa.

Todos os dias espero ser presenteada por um lindo azul, mas raramente acontece.

Que se passa com o verão?

Que se passa com a luz que entrava em nós desde manhã até ao final do dia? Nas longas tardes que se estendiam até à noite? Em meio de conversas mais ou menos banais em família?

Os dias têm sido sombrios e as noites estão longe de ser quentes ou brilhantes.

E isto é o retrato das mudanças climáticas que vivemos no planeta.

O Norte é conhecido pelo tempo escuro e frio no inverno, mas também é conhecido pelos lindos dias quentes de verão.

Se perdemos isso, que nos resta?!


© Alexandra Carvalho

04/08/2022



 A vida tem andado acelerada nos últimos tempos e percebi que tenho me dedicado a tudo, menos a mim, ou às minhas palavras.

Ontem passeei no meu arquivo morto, textos que deixei apenas no papel, por algum motivo, válido à época.

Encontrei um, em particular, do ano de 2016 em que tenho o meu coração todo despedaçado.

Agora olho para o momento, e percebo que a minha vida tinha outros caminhos mais sincronizados comigo, com a minha essência, para me oferecer. Mas, a minha maturidade de então, não permitia ver isso.

Dizer que já não sou aquela pessoa insatisfeita, que sempre fui, é falacioso, porque na verdade, não deixei de ser.

Aprendi, talvez, a amenizar desilusões, a não deixar que as expectativas tomem conta de mim. 

Vou pelas marés, e apesar das oscilações próprias desse movimento, é mais fácil não cair, ou não ir parar ao abismo.

Já sei com o que conto. Tudo vai no alinhamento definido pelo Universo, ainda que às vezes, sinta que podia ser melhor. Que a vida ainda não me está a dar o que preciso, ou que ambiciono. Mas, será que não é um erro, pensar que o que eu quero é o que eu preciso, de facto?

As experiências têm-me mostrado que normalmente, o que precisamos é o oposto do que desejamos, mas ainda assim, esta alma humana, tem tendência a esquecer essa verdade.

Vou conquistando aos poucos metas que almejava, e outras, que não sentia que fossem importantes para mim e isso, enfatiza o tal alinhamento divino ou cósmico, em que tudo o que é para nós, chega quando estamos preparados para vivenciar a experiência ou a emoção.

Quando folheei o passado ontem, fi-lo porque me estava a sentir estagnada. E muitas vezes, validamos o presente e agradecemos quando olhamos para o nosso passado e para tudo o que, entretanto, fomos vivendo.

O bom e o mau.

Sou grata sim, por tudo. Mas sou humana e na dualidade deste mundo, algumas vezes, desejo mais.

A minha principal meta neste plano terreno, talvez seja, viver e aproveitar o que tenho, sem querer controlar o que ainda não é para mim. 

Que todas as vezes de desencontro existencial, o meu eu espiritual, consiga chamar-me de volta.

© Alexandra Carvalho

03/07/2022




Não sei ser igual,

ainda que quisesse não conseguiria.

E é essa diferença que causa estranheza aos demais.

Não sei o que custa mais. 

Se a diferença

Ou a estranheza.

Sei apenas isto.

É como é.


© Alexandra Carvalho

30/04/2022

segunda-feira, 28 de março de 2022

  

Os dias às vezes são sombrios, e quando são, a tendência é sentir que tudo na nossa vida não vale a pena. 

Que a felicidade não existe e a descrença ganha forma. 

Dei comigo a pensar no passado, na criança Alexandra. Como é que ela era. Como vivia os dias, que sonhos tinha.

Não me lembro dos sonhos. Talvez porque em criança era despreocupada, leve, sorridente e vivia os dias como tem de ser. Com brincadeira, com gargalhadas e sem peso.
Não sei quando é que comecei a dar peso ao tempo, penso que quando a escrita entrou na minha vida, lá pelos 13 ou 14 anos.
Mas a criança Alexandra era travessa, questionava tudo, arriscava e não tinha medo.
Fugi da escola inúmeras vezes, o sistema não me dizia nada, o ensino, como era, também não, e a professora, sendo de uma safra antiga, também não se coadunava com a minha forma de ser.
Apesar disso, aprendi a ler rápido e a não dar erros muito cedo, devorava livros, que a minha mãe fez questão desde pequena de me incentivar, (afinal, ela própria também era uma apaixonada pela leitura) comprando e posteriormente, na biblioteca itinerante. Que bom que havia essa bendita biblioteca.
Aprendi imenso com os livros, mas sei bem que o gosto pela escrita não veio daí.
Veio quando a vida me presenteou com obstáculos maiores, com situações que eu não sabia lidar, quando percebi que crescer não era fácil e ser engolida nesta sociedade, era uma realidade constante.
Os seres humanos têm formas de viver muito estranhas, e percebi isso cedo. Fazem mal uns aos outros e parece estar sempre tudo bem.
Descobri as paixões, o que eu acreditava ser o amor, e durante tanto tempo andei imersa em sentimentos confusos.
Era eu e o que eu sentia que deveria ser, e o que a vida me dava.
A escrita passou a ser a minha melhor companhia, a mais genuína, a mais pura. A que não me desiludia.
Afinal, a paixão é maravilhosa, mas principalmente no papel, e o amor, pouca gente sabe o que é.
E durante um tempo, eu própria também não sabia.
A criança que eu era, não soube se transformar em adolescente/jovem, e o preço que paguei foi alto.
Agora, em adulta, encontrei o meu caminho, e fui presenteada finalmente, com seres humanos idênticos a mim.
Agradeço, ainda assim, todo o processo. As palavras que escrevi, as lágrimas, as noites longas, solitárias e os amigos bons, as gargalhadas, o amor que fui descobrindo.
A criança Alexandra, levantava-se de manhã, ia para o balcão da casa da avó, actualmente das tias, e ficava a olhar o mar, o sol a nascer. E era livre.
A adulta Alexandra, já não se importa se se encaixa ou não na sociedade, conquanto que consiga levantar de manhã e apreciar a calma e a paz de um novo dia, e ser livre.

© Alexandra Carvalho

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

 

  

Quem me conhece sabe que durante este tempo pandémico, tentei sempre não entrar em extremismos. Tinha os cuidados necessários, mas não deixei que isso me afectasse o meu dia-a-dia profissional e pessoal. 

Confiei sempre que até poderia eventualmente vir a ser infectada com a covid-19, mas não sem antes, cumprir a missão que tinha. Porque acredito que todos temos uma, ou mais do que uma. 

Testei positivo agora, quando tudo está mais calmo apesar do número elevado de casos por dia. 

Os sintomas foram leves, e sou grata por isso. 

5 dias em casa, que no meu caso coincidiu com uma semana inteira de trabalho. 

Dizer que se passa bem 5 dias fechada num quarto é mentir. O primeiro dia se calhar sim, o segundo também se tolera, chega ao terceiro dia e começas a saturar e aquele espaço que consideravas o teu cantinho especial na casa passa a ser pequeno e aborrecido. 

Nesse tempo já organizaste todos os documentos que tinhas para organizar, os livros já não te estimulam e pões séries na Netflix, mas já nem estás assim tão interessada nelas. 

 Estar em casa por opção e estar em casa por obrigação é o que te faz perder interesse em tudo o que gostavas de fazer até então. 

Não escrevi nada para além deste texto e este, já quando tinha terminado o isolamento. Pensei em tanta coisa durante estes dias, mas nada tão dramático que me fizesse sentido passar para o papel. 

Acima de tudo, sou grata por todo o processo. Por não me ter ido abaixo. Sou asmática e não vou negar que me passou pela cabeça que se apanhasse, podia passar mal. Felizmente não passei. 

Mas continuo a afirmar, nós passamos pelo que temos de passar, nada é aleatório. Resta-nos é saber tirar as lições de tudo o que nos acontece. 

Obrigada mãe pelo tempo, pela paciência, pelo cuidado. 

Pelo amor (e este sei que não se agradece). 

© Alexandra Carvalho 16/01/2022 – Ponta Delgada