segunda-feira, 28 de março de 2022

  

Os dias às vezes são sombrios, e quando são, a tendência é sentir que tudo na nossa vida não vale a pena. 

Que a felicidade não existe e a descrença ganha forma. 

Dei comigo a pensar no passado, na criança Alexandra. Como é que ela era. Como vivia os dias, que sonhos tinha.

Não me lembro dos sonhos. Talvez porque em criança era despreocupada, leve, sorridente e vivia os dias como tem de ser. Com brincadeira, com gargalhadas e sem peso.
Não sei quando é que comecei a dar peso ao tempo, penso que quando a escrita entrou na minha vida, lá pelos 13 ou 14 anos.
Mas a criança Alexandra era travessa, questionava tudo, arriscava e não tinha medo.
Fugi da escola inúmeras vezes, o sistema não me dizia nada, o ensino, como era, também não, e a professora, sendo de uma safra antiga, também não se coadunava com a minha forma de ser.
Apesar disso, aprendi a ler rápido e a não dar erros muito cedo, devorava livros, que a minha mãe fez questão desde pequena de me incentivar, (afinal, ela própria também era uma apaixonada pela leitura) comprando e posteriormente, na biblioteca itinerante. Que bom que havia essa bendita biblioteca.
Aprendi imenso com os livros, mas sei bem que o gosto pela escrita não veio daí.
Veio quando a vida me presenteou com obstáculos maiores, com situações que eu não sabia lidar, quando percebi que crescer não era fácil e ser engolida nesta sociedade, era uma realidade constante.
Os seres humanos têm formas de viver muito estranhas, e percebi isso cedo. Fazem mal uns aos outros e parece estar sempre tudo bem.
Descobri as paixões, o que eu acreditava ser o amor, e durante tanto tempo andei imersa em sentimentos confusos.
Era eu e o que eu sentia que deveria ser, e o que a vida me dava.
A escrita passou a ser a minha melhor companhia, a mais genuína, a mais pura. A que não me desiludia.
Afinal, a paixão é maravilhosa, mas principalmente no papel, e o amor, pouca gente sabe o que é.
E durante um tempo, eu própria também não sabia.
A criança que eu era, não soube se transformar em adolescente/jovem, e o preço que paguei foi alto.
Agora, em adulta, encontrei o meu caminho, e fui presenteada finalmente, com seres humanos idênticos a mim.
Agradeço, ainda assim, todo o processo. As palavras que escrevi, as lágrimas, as noites longas, solitárias e os amigos bons, as gargalhadas, o amor que fui descobrindo.
A criança Alexandra, levantava-se de manhã, ia para o balcão da casa da avó, actualmente das tias, e ficava a olhar o mar, o sol a nascer. E era livre.
A adulta Alexandra, já não se importa se se encaixa ou não na sociedade, conquanto que consiga levantar de manhã e apreciar a calma e a paz de um novo dia, e ser livre.

© Alexandra Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário