Porque os acontecimentos chamam-nos à atenção, mesmo quando
não acontecem connosco, mas com pessoas próximas a nós.
A vida é fugaz, e nós sabemos disso. Ainda assim, vivemos os
dias como se fôssemos viver sempre o amanhã.
Mas pasmem-se. Não vivemos sempre o amanhã.
Porque nem só a doença é responsável por desprender-nos deste
plano terrestre. Andamos aqui todos os dias à mercê de qualquer fatalidade. Um
acidente estúpido, uma queda, uma dor repentina, e pronto, vamos embora.
Recentemente, porque alguém próximo a mim viveu uma perda
assim. Fez-me pensar ainda mais sobre os dias que passo aqui por baixo, nesta
terra que tantas vezes não é correcta nem justa.
Fez-me olhar para mim, para a minha realidade, a minha
verdade.
Pedi perdão a toda a gente? Toda a gente me pediu perdão? Perdoei-me
a mim?
Disse a todos de quem gostava da imensa importância que têm
na minha vida?
Disse a quem amava, que realmente amava?
Pois é. Nem sempre.
Calamos as palavras e calamos os sentimentos também. Porque
acreditamos que há sempre um amanhã, e que em algum momento vamos ser capazes ou
porque o tempo irá encarregar-se desses sentimentos/palavras.
Devido a este acontecimento, despoletou-me a necessidade de
dizer mais o que sentia, com todas as consequências que podem advir daí.
Mas, sabem, dizer a verdade é sempre o melhor caminho. O que
é para nós, vai ser sempre para nós. O que não é, não vai ser. Por mais que queiramos
que seja.
O que realmente é importante é não guardar sentimentos que
nos aprisionam, mesmo quando não percebemos que é isso que nos fazem.
Doendo ou não, ferindo o orgulho ou não, é preciso pedir
perdão quando for altura.
É preciso dizer que gostamos dos outros, quando assim é.
É preciso dizer que amamos, quando realmente amamos.
Porque na hora da partida, o coração estará mais leve, o
nosso e de quem vai.
© Alexandra Carvalho
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