quinta-feira, 28 de junho de 2018

Almas boas não precisam de cá andar muito tempo




Hoje apetece-me falar sobre uma das pessoas mais especiais que cruzou a minha trajectória de vida.
Numa fase de transição conheci o Mário, nome fictício que deliberadamente escolhi para falar sobre esta alma.
Numa época, em que ainda utilizávamos o Messenger do Hotmail conheci-o. Já não sei bem como.
Encontrava-me à data em estágio curricular, na cidade de Setúbal. E tinha espalhados em cada canto do País, os meus amigos de curso, as pessoas que dia a dia tinham partilhado tudo comigo, nesses últimos anos.
Ali, em Setúbal, senti-me só. Inúmeras vezes.
O Mário, com toda a dedicação e serenidade, ia-me confortando à distância. Na ilha, que mais dia menos dia, eu também iria estar.
Como alma companheira, dizia todas as palavras que sabia de antemão que eu precisava ouvir ou ler. E na sua generosidade escrevia-me cartas (ainda as guardo), que me completavam sobremaneira.
Já havia ali um amor puro, que transcendia qualquer ligação carnal ou sexual. É óbvio que a ansiedade em relação a esse encontro de almas crescia, mas em nenhum momento permitimos que tirasse o meu foco, e esse, era a plena dedicação ao estágio, a última etapa do curso, o objectivo primário.
Lembro-me (e aqui com um sorriso no rosto) que quando fiz a viagem para a Madeira após a conclusão do estágio, ele quis lá estar, no aeroporto, fazia questão de ser ele a dar o primeiro sorriso depois de toda a solidão em terras do Sado.
De tão puro e genuíno que tudo aquilo entre nós era, eu não soube lidar.
 E trouxe para o meio, anos de vazio e mágoas que tinha como bagagem.
E perdi-o. Por mim.
Apesar disso, em ocasiões menos boas voltamos a ser parceiros amigos, intimamente queríamos o melhor um para o outro.
A vida correu e o silêncio acabou por se impor entre nós.
Partiu, cedo, um acidente estúpido.
Almas boas não precisam de cá andar muito tempo.
Chorei, ou não sei se chorei, mas interiormente senti a perda.
Ocasionalmente, pensava nele, com um carinho que me saltava do coração.
Dei conta agora, que não lhe pedi perdão. Na minha pouca maturidade emocional não fui capaz de lhe pedir perdão.
Dei conta agora também, que logo de início ele já me havia perdoado. Mas eu não, a mim própria.
Terá chegado esse momento, em que me perdoo por ter seguido o padrão antigo, por não o ter quebrado quando precisava de o fazer.
Mário, cheguei lá, e tu aí, em casa, nos céus, tenho a certeza que te rejubilas de alegria com a minha tomada de consciência.
A tua alma não passou por mim por acaso.

Obrigada. 

© Alexandra carvalho

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