terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Saudade

Passei por lá, como se ingenuamente, a minha cabeça me dissesse que talvez os meus olhos encontrariam os teus, castanhos, brilhantes, suaves, iluminando tudo ao meu redor.
Nada, ninguém, não estavas lá.
As pedras da calçada subitamente pareceram mais negras, a escuridão que havia me tomado. A minha alma que ansiava a tua, de repente, estava devastada.
Não quero sentir mais a tua falta, ainda assim, o meu coração relembra-me a saudade todos os dias, um bocadinho mais.
O mar já não te chama?! Deixaste de o procurar, e eu, deixei-me contagiar pelo teu despreendimento. Já não o olho como antes, pouco me diz.
Afinal, sem ti, pouca coisa me completa, pouca coisa me satisfaz.
Deixei a saudade preencher todos os espaços livres no meu coração, na minha palete de emoções e sentimentos.
E carrego-a firme.
Algum dia deixarei morrer a saudade e permitir-me-ei ficar apenas com a recordação dos teus olhos castanhos, brilhantes, suaves.

© Alexandra Carvalho

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Solidão


A solidão não mata,
Mas dói, tão silenciosa e arrebatadora.
Aparece do nada,
Disfarçada e contida,
Até apercebermo-nos dela,
E aí, já nos consumiu,
Já nos transformou…
Tornamo-nos fantoches nas suas mãos.
É preciso ter mais força que ela;
É preciso sorrir;
É imperioso sorrir,
Deixar que o brilho entre em nós
E afaste a escuridão
Que veio aliada à solidão.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Filipe

16 graus, está frio.
Não me apetece estar em casa mas também não me apetece estar em outro qualquer lugar.
Pensei em ti Filipe, dei comigo a lembrar do teu sorriso maroto que se esconde por detrás do homem sério e respeitável. A sociedade respeita-te e eu admiro-te.
Conheço o outro lado de ti, a essência que os demais não conseguem ver, nem conseguem perceber que existe.
Deixei-te ir, mas o meu coração ainda te pertence, pertencerá por toda a eternidade.
Deixei que o teu corpo fosse embora, que outra mulher usufruísse desse corpo que foi meu, tantas vezes, mas a tua alma não foi com ele, não é dela, jamais o será.
Não, eu já não te chamo, deixei de o fazer há muito tempo.
Pediste-me um dia que te substituísse, que procurasse à minha volta um outro ser que completasse o meu, como tu me completavas.
Como nos completávamos, não existia mundo, não existia gente, não existia mar nem sol, nem vento, nem chuva.
No momento que éramos um do outro, não existia mais nada. Sinto saudade dessa perfeição.
Não Filipe, a vida passou, e nós encontramos rumos diferentes, seres humanos diferentes para alojar os nossos sentimentos e as nossas emoções.
Deixa-me ir embora, liberta-me de ti, do nosso amor perfeito, quase irreal.
Continuam os 16 graus, o frio teima em não me deixar o corpo, tenho as mãos frias, a lembrança do teu calor, já não aquece nem o meu corpo nem o meu espírito.
Talvez num outro tempo, ou talvez não.
O sentimento já se completou, foi vivido tão intensamente que chegou a doer. Não temos mais nada que viver, mais nada que partilhar.
Vai embora, e deixa-me ir também.
Este é o adeus para agora, o adeus para sempre.

© Alexandra Carvalho

domingo, 8 de janeiro de 2012


As ondas já não me acalmam,
O coração bate desmedidamente…
A inquietude apodera-se,
Tal devoradora que é,
Consome-me até às entranhas…
Não sou ave, não voo;
Não sou peixe, não nado…
Sou ser humano,
O ser mais prisioneiro de todos…

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012


Que ser absorto é este que me domina?
Tenho as mãos atadas
Pela invisibilidade
De uma realidade desconhecida e atroz.
Apareces ora brilhante
Ora objecto inerte, apagado,
Nada provocas em mim…
Nos teus sonhos
Descobres partes de mim,
Na tua realidade desconheces-me
Tão profundamente…
Sacias a tua vontade do meu brilho
Em pequenas coisas,
Encontras-me onde pensas
Que eu estou…
Deixas de sonhar,
Eu estou aqui,
Objecto inalcançável,
Alma insatisfeita e arredia.