Há um momento que decido fechar-me e esquecer. O interruptor
está ali mesmo e poderei ligá-lo a qualquer momento. Para já, não me apetece.
Não deixei de ter emoções nem passei a ser um humano frio.
Só desliguei daquelas emoções em particular, com aquele ser humano em
particular.
Hoje, questionei-me: serias capaz de viver com aquela
pessoa? Consegues imaginar-te a acordar todos os dias a ver aquele rosto? Terá
ele capacidade de te ver tal como és?
Perguntas básicas mas que respondem grandes questões. Uma
espécie de separação de o trigo do joio.
Sim, conseguiria viver com aquela pessoa, também conseguiria
acordar e deitar com aquele sorriso todos os dias. Mesmo quando não houvesse
sorriso.
Até aqui não reside problema.
Não, ele não tem capacidade de me ver como sou.
Não tem agora, não terá mais tarde.
Apesar de escrever e apreciar sobremaneira as palavras,
tenho vindo a perceber que as constatações acontecem quando nos deparamos com
as acções. E as acções, desde o início mostraram sempre a mesma realidade.
E pela primeira vez, eu mostrei o meu eu, fui mostrando
devagarinho e dei de bandeja a verdadeira Alexandra, a alma alojada nesta
Alexandra.
E para partilhar tempo com esta alma é preciso vê-la,
aceitá-la e acima de tudo respeitá-la.
Quando não a vês, também não consegues respeitar.
E se não tens capacidade para isso, é porque os nossos
trajectos são opostos.
Dissipam-se as dúvidas.
A amizade poderá viver, como poderá não viver.
Será o que tiver de ser.
© Alexandra Carvalho
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