Hoje apetece-me falar sobre uma das
pessoas mais especiais que cruzou a minha trajectória de vida.
Numa fase de transição conheci o
Mário, nome fictício que deliberadamente escolhi para falar sobre esta alma.
Numa época, em que ainda utilizávamos
o Messenger do Hotmail conheci-o. Já não sei bem como.
Encontrava-me à data em estágio
curricular, na cidade de Setúbal. E tinha espalhados em cada canto do País, os
meus amigos de curso, as pessoas que dia a dia tinham partilhado tudo comigo,
nesses últimos anos.
Ali, em Setúbal, senti-me só. Inúmeras
vezes.
O Mário, com toda a dedicação e
serenidade, ia-me confortando à distância. Na ilha, que mais dia menos dia, eu
também iria estar.
Como alma companheira, dizia todas
as palavras que sabia de antemão que eu precisava ouvir ou ler. E na sua generosidade
escrevia-me cartas (ainda as guardo), que me completavam sobremaneira.
Já havia ali um amor puro, que
transcendia qualquer ligação carnal ou sexual. É óbvio que a ansiedade em relação
a esse encontro de almas crescia, mas em nenhum momento permitimos que tirasse o
meu foco, e esse, era a plena dedicação ao estágio, a última etapa do curso, o
objectivo primário.
Lembro-me (e aqui com um sorriso
no rosto) que quando fiz a viagem para a Madeira após a conclusão do estágio,
ele quis lá estar, no aeroporto, fazia questão de ser ele a dar o primeiro
sorriso depois de toda a solidão em terras do Sado.
De tão puro e genuíno que tudo aquilo
entre nós era, eu não soube lidar.
E trouxe para o meio, anos de vazio e mágoas
que tinha como bagagem.
E perdi-o. Por mim.
Apesar disso, em ocasiões menos
boas voltamos a ser parceiros amigos, intimamente queríamos o melhor um para o
outro.
A vida correu e o silêncio acabou
por se impor entre nós.
Partiu, cedo, um acidente estúpido.
Almas boas não precisam de cá
andar muito tempo.
Chorei, ou não sei se chorei, mas
interiormente senti a perda.
Ocasionalmente, pensava nele, com
um carinho que me saltava do coração.
Dei conta agora, que não lhe pedi
perdão. Na minha pouca maturidade emocional não fui capaz de lhe pedir perdão.
Dei conta agora também, que logo
de início ele já me havia perdoado. Mas eu não, a mim própria.
Terá chegado esse momento, em que
me perdoo por ter seguido o padrão antigo, por não o ter quebrado quando
precisava de o fazer.
Mário, cheguei lá, e tu aí, em
casa, nos céus, tenho a certeza que te rejubilas de alegria com a minha tomada
de consciência.
A tua alma não passou por mim por
acaso.
Obrigada.
© Alexandra carvalho