A verdade é
que os momentos recentes, têm-me ensinado a serenidade. O meu coração foi
sempre desgovernado e as experiências passavam por mim e eu não sabia reconhecê-las.
Não tinha
maturidade espiritual suficiente para perceber os erros, para aprender com
eles, mas acima de tudo, não tinha maturidade para estar bem comigo própria,
apesar dos erros.
Afundava imensas
vezes numa tristeza interior, visível apenas para mim. Pensava eu que a grande
façanha era conseguir não mostrar ao mundo a minha dor, o meu vazio espiritual.
De resto,
percebi que não era façanha, era medo. Medo de mostrar o meu verdadeiro eu,
medo até de falar comigo própria.
Em cada frase
que escrevi ao longo destas duas décadas, tinha quase a plena certeza que
naquele momento, no encontro da minha alma com o papel, eu falava comigo. De facto,
falava. Mas não me entendia.
Debitava palavras
desesperadas de uma Alexandra com muitas dúvidas, dúvidas essencialmente acerca
da sua existência, o porquê de alguns acontecimentos, o porquê de algumas
emoções.
Sei agora que tudo
estava conectado.
Os acontecimentos
repetitivos que me mostravam que eu precisava quebrar os padrões na minha vida,
precisava fechar ciclos.
Percebi também
que custa encerrar ciclos, qualquer ciclo. Porque é quando os quebramos que aprendemos
a conviver com o desapego.
Crescemos com
aquela sensação predefinida que para estarmos bem temos de possuir coisas e infelizmente,
pessoas também.
Não temos, é
precisamente o contrário.
Quando compreendemos
que nada é nosso e que ainda assim, podemos desfrutar das pessoas, dos
sentimentos que elas nos provocam, das experiências que nos enriquecem e ajudam
a melhorar aqui na matéria, como seres humanos, há um peso que sai de cima da
nossa alma que não tem definição nem medida.
É verdade, nós
podemos amar sem posse, sem controlo, sem pressões, sem cobranças, e esse amor é
pleno e não acaba.
O desapego, na
realidade, ensinou-me a compreender melhor o que era o amor e que eu poderia
sim, amar desta forma e ser amada do mesmo jeito.
©
Alexandra Carvalho
Terrível. E belo, também. Não tanto pelo quebrar e depois desfrutar, mas pela coragem de o dizeres a ti própria. Isso é que é mais dificil, pelo menos para mim. E sim, depois de quebrados os vícios a felicidade espreita, ainda que tímida. Muito bom. João
ResponderEliminarObrigada João pelas palavras.
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