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Catarina apenas sonhava. Via-se noutra vida, noutro
contexto.
A dignidade humana, por mais que digam o contrário, está
muitas vezes associada a factores externos, que não estão ao nosso alcance.
Catarina mantinha-se fiel ao que era, ao seu perfil de sempre.
Mas a carteira não era a de antes. Trocos. Uns simples trocos e uma incerteza
abismal acerca do futuro.
Sim, a dignidade não a tinha abandonado mas a descrença
havia abalado todas as suas estruturas mentais e agora caminhava também para as
físicas. O corpo não se dissocia da mente, para o bem e para o mal.
Este era o momento em que pensava nos porquês e nos quando. Quando
o tempo iria abrir uma brecha que lhe trouxesse luz.
Quando Catarina sonhava, não idealizava ostentação ou
luxúria. Quando se via noutro contexto, não era na riqueza nem no poder.
Os sonhos eram simples. Trabalho e independência financeira.
Houve tempos em que trabalhar era algo comum, fácil, não
fazia parte dos sonhos. Quando alguém sonhava, ambicionava ser o melhor da sua profissão,
ser rico, ter uma mansão repleta de empregados. Estes objectivos sim, eram
sonhos. Trabalhar, mal ou bem, toda a gente trabalhava.
Os tempos mudaram.
Estudar já não significa independência financeira. E os
empregos perderam-se de vista, afundaram-se nas ondas agitadas que os nossos
governantes provocaram.
O naufrágio, aos poucos, atingia a todos, Catarina era mais
uma e não uma excepção.
É verdade, a dignidade humana fica em risco quando não
conseguimos satisfazer as necessidades básicas, quando dependemos dos outros
para viver, para sobreviver.
E era assim que Catarina se sentia, a sua dignidade estava
ameaçada e o amanhã não previa coisas boas.
Surge a pergunta: o que realmente estamos cá a fazer?
© Alexandra Carvalho