quinta-feira, 17 de março de 2011

Uma geração díspar

Nestes últimos tempos, o tema que mais surge no país, é a geração à rasca, ou as várias gerações à rasca. Tem sido motivo de escrita por escritores, jornalistas, etc.
Recentemente, vi uma prosa, como o próprio autor indica, Mia Couto, que fala sobre a minha geração, a geração dos meus pais, das minhas tias e por aí fora. Concordo com tudo, se estivesse a falar de uma geração que não é a minha, mas a verdade, é que eu faço parte dela.
Não me revejo naquela prosa, e olho à minha volta e vejo outras pessoas que como eu, não tiveram carta de condução paga pelos pais, e muito menos carro.
Fico a pensar no meu percurso de vida até aqui, nas dificuldades, que mal ou bem, fui sentindo pelo caminho. Não nasci num berço elitista e também não tive uns pais que esqueceram de me ensinar o não.
Afinal, o não faz parte de uma educação que seja centrada em valores, em regras, em respeito, em responsabilidade. Aprendi cedo que a vida não é fácil, que o dinheiro não é algo que caia nas árvores como caem folhas.
Sim, estou desempregada, como a maioria da minha geração, mas desenganem-se, se peço aquilo que é impensável pedir ao meus pais numa época de crise.
Já não sei quando foi a última vez que saí à noite, cinema, nem pensar, e espectáculos e concertos, muito menos. E esta minha atitude de estar na vida, não me foi imposta agora, eu já a conhecia de antes. Tive o privilégio de ter um pai e uma mãe que me mostraram que era preciso saber distinguir o que é importante do que é supérfluo.
Sim, é verdade que tenho casa paga e alimentação, que mau seria se não o tivesse, mas também não lhes peço para encher o depósito do meu carro de combustível, nem tão pouco que me paguem o seguro do carro. Talvez seja um luxo ter carro, ou não, a verdade, é que mesmo estando desempregada, encontrei meios de conseguir manter esse pequeno “luxo", sem pedir nada aos meus pais.
Esta minha geração não é toda ela preenchida com filhos mimados, de classes sociais altas ou não, em que os pais esquecem-se deles para poder manter e pagar os caprichos dos meninos, esta geração também é feita de gente como eu, que aprendeu a valorizar o que tem, e a saber viver com o pouco, e ainda assim, a lutar por uma vida melhor.
Com tudo isto, sim, concordo com as palavras de Mia Couto, simplesmente, não me enquadro nelas.

© Alexandra Carvalho

1 comentário:

  1. Procuram-se pessoas inteligentes e com sentido crítico para ajudar a mudar a sociedade. Chega de fome, guerra e crime. Vê como podes ajudar em

    http://zmportugal.blogspot.com/

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