As épocas religiosas, há muito
deixaram de representar o que representavam para mim no passado. Muito porque,
no decorrer dos anos fui vivenciando momentos e experiências que me mostraram o
ser humano tal como é, no dia-a-dia.
Defeitos temos todos, e ninguém
que afirme que esteja acima de alguém, estará. Na verdade, é bem provável que
esteja abaixo na cadeia evolutiva.
Todos os dias, há escolhas que precisamos
fazer. Umas vezes decidimos pela melhor, outras vezes decidimos por aquela que
pensamos ser a melhor, outras vezes, decidimos de facto, pela pior escolha a
ser feita.
Mas é isso que cá estamos a fazer.
Estamos cá para viver, para falhar, para aprender e acima de tudo, para
recomeçar a cada tropeço e evoluir.
E porque então, as épocas religiosas
já não têm o mesmo significado? Porque já não acredito em frases, em desejos
que não passam de palavras moralmente aceites e padronizadas. Porque o coração,
ao longo de todo o ano, não escolhe ser melhor, nem tão pouco lembra daquelas
frases feitas usadas à mercê de um Deus, que elas próprias não seguem.
Dizem acreditar, mas na verdade
não acreditam.
Viver é realmente difícil. Porque
estamos expostos à dualidade. E sim, a tendência a resvalar é enorme, porque é
isso que a dualidade faz.
O grande mistério de cá estar, é
conseguir amar incondicionalmente. Que difícil é! Porque as pessoas tendem a
nos mostrar o pior de si, tendem a nos fazer sofrer. E nesses momentos que
precisamos escolher, entre aceitar que também precisamos viver aquilo para sermos
melhores ou renegar a dor, e ver aquele ser humano, como o pior dos piores.
Consideramos injusto, quando na verdade também já fomos injustos ao longo desta
vida, com tantos seres humanos. E por isso, muitas vezes escolhemos o lado
errado.
De vez em quando cansa, e há uma
pergunta que timidamente aparece.
Não estás cansada? Não te apetece
voltar a casa?
Resposta rápida e sem precisar ponderar
muito.
Estou. Muitas vezes apetece voltar
a casa, mas outra resposta também surge, não é a altura.
Muitas experiências faltam.
Muitas emoções não foram vividas. Ainda não sou aquele ser humano que preciso
ser.
Mas é com calma. Sem renegar a
dor, sem crucificar quem passa pelo meu caminho.
Somos todos seres, com uma
missão. Cada um a aprender consoante o que consegue.
Uma coisa é certa, não são as
datas assinaladas que nos fazem chegar lá.
Todos os dias precisamos tentar
chegar lá.
© Alexandra Carvalho