É inevitável, a vida irá nos
oferecer alguns tropeções. Obstáculos grandes, outros menores. Como vamos
reagir a eles, é que é a chave de tudo isto, de estar vivo.
Quando fui de férias, recentemente,
ia com o coração partido, e intimamente senti que a distância das minhas raízes
iria conseguir juntar as pecinhas que estavam todas misturadas e algumas
minuciosamente partidas.
O trabalho que se avizinhava era
árduo. Colar um frasco que se quebra já não é tarefa fácil, mas juntar a alma,
é sobejamente mais difícil.
Sair da minha zona de conforto, embora
tenha facilitado, não foi factor suficiente para que as peças se juntassem
todas, juntaram-se algumas. Mas nesta tarefa, apercebi-me que não estava a
colá-las em consonância com a minha essência, a verdadeira. Estava deliberadamente
a afastar-me de quem era antes, porque o eu anterior, havia-me atraído para uma
situação que me fez sofrer. Nós queremos sofrer? Não, ninguém quer. E se, este
eu, me atraía para isso, tentei que me redefinisse de forma diferente. Tarefa
inglória esta, porque nós somos o que somos. E que nos consciencializemos que
não vamos conseguir fugir muito tempo de quem realmente somos.
Nós melhoramos arestas, a cada
dia, mas fugir de nós, e substituir por outro eu qualquer, não o devemos fazer.
Voltei às raízes e à rotina, e
foi precisamente, na rotina e não fora dela que percebi que o caminho que
estava a trilhar não era de facto, o que eu queria. Se permitisse continuá-lo,
a médio prazo, teria eventualmente, me perdido completamente.
A essência genuína teria sido
mitigada por uma qualquer produzida por um eu maltratado e que não soube fazer
o luto, sim, porque nós fazemos o luto mais vezes na vida e não apenas quando
perdemos da vida terrena, os nossos entes mais chegados.
Eu tinha um luto emocional para
fazer e estava a fugir dele, esse era o caminho mais fácil. Se fingisse ser
diferente, conseguiria num curto espaço de tempo voltar a sorrir, mas a que
custo? E que sorriso seria esse? Não seria o puro.
Percebi que nós temos de chorar,
se assim for necessário, não nos torna mais fracos. Não há que ter vergonha.
Nós temos de nos revoltar de vez em quando, isso leva-nos outra vez para nós
próprios, liberta-nos.
A chave é encontrar sempre o
caminho de volta, e trazer connosco o ensinamento que a dor nos deu.
Tudo acontece para que depois a
vida nos traga o melhor.