quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Plenitude


Nós não sabemos, nunca sabemos quando é que a partida se aproxima. Mas sabemos sim, se existe medo se não. Se nos invade a sensação atroz de não querer ir embora.
Não tenho medo de ir embora.
Não sou daqui.
Lamentarei apenas, caso parta, sem antes conhecer o verdadeiro amor, o puro, o único.
O amor que era suposto encontrar nesta vida e não na próxima.
Terei porventura falhado novamente e deixei-o escapar por entre a minha até então, tumultuada personalidade. Esta alma que apenas recentemente começou a conhecer a paz.
A conhecer-se, a cada uma das suas partes.
Enquanto não nos conhecemos, enquanto não alcançamos a nossa paz interior, o amor vai passando ao nosso redor, mas não somos capazes de o reconhecer, nem tão pouco de o aceitar.
A alma sem plenitude não é capaz de viver o que lhe está destinado.
O amor é o estado puro da plenitude. O amor, nas suas diversas formas. Quando o entendemos, apresenta-se então a alma gémea. A alma que nos acompanha vida após vida, que nos acompanha no alcance da sabedoria e da evolução espiritual.
Lamentarei apenas partir sem que tenha sido capaz de a reconhecer.
Todavia, a evolução continuará.
Sempre continuará.


© Alexandra Carvalho

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Dualidade

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E porque em algum momento temos de nos libertar das máscaras que, uma após a outra fomos incorporando na nossa vida, hoje, estou a libertar-me das minhas.
Parecia fácil usá-las! Embora à noite as retirasse, o peso tendia a permanecer. Cada uma deixava algo em mim.
Hoje decidi libertar-me delas, mas a verdade é que deixei de as usar faz tempo e desde que o fiz o sorriso é praticamente permanente e real.
Não tentarei ser outros eus senão aqueles que já sou, e bastam-me esses.
Sim, outros eus, porque não sou apenas um. Tendo a não acreditar que alguém tenha apenas um eu.
Não somos tão lineares.
Vamos acumulando ao longo do tempo, características divergentes e sim, aí deixamos de ser apenas aquele eu que achávamos que éramos. Somos esse e o outro que entretanto se apoderou de nós.
Hoje estou a assinar a minha carta de alforria.
Deixo para trás as máscaras que não me assentam bem e os amores, as paixões que inconscientemente deixaram resquícios, porque eu permiti que continuassem alojados.
O passado não deve caminhar no presente, deve apenas ser um indicador do percurso que tivemos até aqui, deve funcionar como um impulsionador a não cometer os mesmos erros. Mas jamais deve interferir com o presente.
Os amores terminaram, tiveram a função que era suposto terem. As paixões arrebatadoras, não passaram disso mesmo e já não fazem sentido.
Dou autorização ao meu coração que se liberte deles.
Ainda que não surja outro amor, sinto-me livre para o acolher quando chegar.
Acima de tudo, sinto-me livre para viver com a plena certeza que agora nada me condiciona.
Hoje sou o eu que quero ser.
Amanhã posso ser o outro, ainda assim, serei eu exclusivamente, a decidir qual deles incorporar.


© Alexandra Carvalho

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Constatação Evolutiva

As pessoas entram e saem da nossa vida a um ritmo estonteante. Algumas permanecem. Os papéis entrelaçam-se mais tempo e somos necessários na vida um do outro.
Ficamos por tempo indeterminado.
Nem sempre é fácil perceber o que é que aquela pessoa faz ali, porque continua ali, como nem sempre é fácil perceber porquê que aquela pessoa, em particular entrou na nossa vida.
Mas hoje reflectirei apenas na tua pessoa.
As tuas crenças e/ou ideologias não se coadunam com as minhas, ainda assim, por um determinado papel, tu inevitavelmente, entraste na minha vida.
Não escrevo especialmente para ti, antes que atribuas uma importância irreal às minhas palavras. Eu escrevo. Ponto.
Questiono essencialmente as emoções, as vivências que vão construindo a minha história.
Não sou uma pessoa fácil, nunca fui. O que é certo num dia, deixa de o ser no outro. Não sou constante e tenho dificuldade em aceitar comportamentos padronizados, que resvalam na banalidade, e acima de tudo, na futilidade.
Afasto-me deliberadamente de tudo o que não me apraz. De tudo e de todos. Isolo-me não raras vezes, para poder voltar ao meu eu original.
A sociedade gosta de corromper, de aliciar para o que não somos.
E se a mente estiver fraca, somos facilmente corrompíveis.
Costumo dizer que trago em mim toda a insatisfação do mundo. Condensada numa mente que considera ser pouco o que aqui vivemos. A pequenez de sentimentos ultrapassa-me, ultrapassa a minha acepção do que é viver, do que é amar.
Ultrapassa-me que aceitemos que o ser humano é básico, e que gosta de ser assim.
Quando esbarramos em seres humanos que nos parecem familiares, semelhantes a nós, olhamos com mais atenção.
De miúdo, irmão mais novo da antiga amiga de infância, facilmente saltas para o papel de um semelhante. Pela estranheza que reconheci imediatamente.
Não me ocorre, por ora, o papel que é suposto teres na minha história, ou eu na tua.
Todavia, identifico com clareza as nuances da minha inconstância, perante o confronto da tua insensibilidade.
Num dia és o semelhante, no outro, um ser humano básico que pretendo deixar para trás.
A tua insensibilidade, em forma de palavras, remete-me para um eu que não deseja deixar-se afectar pela não reciprocidade, como antes acontecera.
Não terei definido ainda o teu papel, mas certamente encontrei uma das tuas funções, ensinar-me a arte do desapego e da liberdade. A liberdade de reconhecer e aceitar que nem sempre os sentimentos serão recíprocos mas que apesar disso, podemos continuar a sorrir.
Porventura, a esta altura já estaria eu noutro patamar evolutivo, e a tua interferência apenas veio enfatizar esse facto.
Numa fase mais descontrolada e inconstante, certamente já te teria varrido de todas as minhas redes, pessoais e virtuais.
Não o fiz, nem vou fazê-lo por tais motivos.
A tua primeira função considera-se executada, permaneço, no entanto, no caminho da aprendizagem e evolução.


© Alexandra Carvalho