quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Ditames Celestiais

https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography
Voltei ao que era,
Pouca coisa me afecta.
Estou dormente perante as emoções.
Deixo-me ficar num estado latente,
Viver parece mais fácil assim.
Não me conformo, apesar disso.
Não quero nada querendo tanto.
Que ser inconformado sou eu?
E para quê? Porquê?
Que escolha lastimável fiz
Ao escolher este tipo de vida.
Esta existência que pouca coisa me diz.
É capaz que me tenha enganado;
É capaz também que ainda não tenha percebido nada,
Os ditames celestiais serão os certos, porventura.
Aguardo pelo fundamento;
Aguardo pela descoberta,
De quem sou e o que aqui faço.


© Alexandra Carvalho

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As incertezas de Henrique

https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography
Por ora, era apenas a lágrima que caía. Miraculosamente. Espontaneamente.
Henrique preparava-se para deixar o passado lá trás, mas aquela lágrima, ele não queria deitar.
Como se a vida se tornasse diferente ou como se ele se tornasse outro ser que não é, só porque não deixava cair aquela lágrima. Que de resto, era genuína.
Nós vamos nos moldando com o tempo, com as vivências, com as relações humanas que vamos experienciando, mas em nenhum momento deixamos de ser nós próprios.
Porém, Henrique mascarava essa verdade, preferia ser outro, ter uma personalidade que lhe impedisse de voltar a se magoar.
Que equivocado estava ele!
O ser humano precisa viver todos os estados, incluindo a desilusão. É assim que ele evolui, que se transforma e encontra a paz.
Somos tentados a cada tropeção que a vida nos dá, em dizer mal de tudo. Da justiça humana, da justiça divina.
É provável que todos os tropeções nos tenham feito aprender algo, tenham contribuído para uma serenidade maior, mais real.
Henrique sabia disso, mas nem sempre o que nós sabemos ser verdade é o que nós aceitamos como certo.
No entretanto, a vida volta a nos sacudir e cometemos os mesmos erros, deixamos espaço para que eles se repetissem.
O equívoco de Henrique era precisamente esse, trapacear a realidade. E a realidade é generosa, ela volta, ela chama-nos até que consigamos a aceitar, e aí sim, os mesmos erros já não se cometem, cometem-se outros. De tão imperfeitos que somos, os seres humanos.
Seria a vida bem mais simples e fácil se aceitássemos a nossa imperfeição. Talvez, olhássemos uns para os outros como iguais.
Fala-se tanto na igualdade, luta-se pela igualdade, que igualdade é essa? O meu conceito é diferente dos outros, até nisso não somos iguais.
Nestas questões sociais, emocionais, existenciais, perdia-se Henrique, não conseguia encontrar fundamento para certos comportamentos, para certas realidades.
A desilusão ainda lhe fervilhava no peito, mas diminuía quando olhava em volta.
O mundo era muito mais do que simples desilusões.


© Alexandra Carvalho