domingo, 30 de dezembro de 2012

Mensagem de fim de ano

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E porque tenho estado ausente do mundo poético, decidi hoje, deixar uma breve mensagem para quem fielmente me lê. 
Não sei o que o próximo ano reserva, não se avizinham bons tempos em Portugal. Mas, não sinto vontade de pensar nisso. 
Devemos seguir o caminho que é o nosso, que cada dia se mostra para nós. Nem sempre, a vida é fácil, algo constante em todos os anos, em todos os tempos. 
Acredito que estamos cá por alguma razão, nem sempre nos encontramos nesta vida, nem sempre percebemos logo a nossa missão, mas, em algum momento, essa missão mostrar-se-á e saberemos o que fazer.
Então, desejo apenas que o próximo ano seja de iluminação, de reconhecimento, que saibamos nos reconhecer e aproveitar cada dia que escolhemos viver.

Feliz 2013!

Um beijo,

Alexandra Carvalho


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Mar

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Segue veloz como o vento,
Imprevisível como a vida.
Uma imensidão de sonhos guardados,
Lágrimas incontidas,
Desejos inalcançáveis.
Tudo desagua ali;
Tudo começa e acaba ali,
No mar.


© Alexandra Carvalho

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Francisco Carvalho

https://www.facebook.com/JCarvalhoPhotography 


 Hoje, decidi dedicar tempo e palavras a um homem que não conheci, o meu avô Francisco. 
O homem, de quem provavelmente, herdei o gosto pela escrita, a facilidade nas palavras e na transposição de emoções.
E não o conheci porquê?
A história do meu avô é repleta de ambiguidades, controversas ou não, a vossa consciência ditará o melhor julgamento.
Ele nasceu noutro tempo, noutro século. Proveniente de uma família da alta burguesia, sem dificuldades financeiras e uma vida planeada e garantida.
Como membro de uma casa abastada, cedo viu-se rodeado de compadres e afilhados.
Boaventura, é a sua terra de nascença.
À época do seu nascimento, Boaventura já era freguesia, mas não assim há tanto tempo.
É de extrema importância que saibam isso, o meu avô nasceu no ano 1800 e tal, não sei precisar a data.
As palavras saltam-me já para o papel e apetece-me adiantar os factos, contar as vivências quase surreais que o meu avô viveu.
Mas, conter-me-ei um pouco.
Exigente, Francisco não casou jovem, as mulheres que conhecera, porventura não lhe terão agradado.
Com uma vastidão de terras herdadas e nenhum herdeiro para as herdar, não durante muito tempo.
Até que uma afilhada, uma jovem do povo, foi trabalhar para a sua casa. Piedade, a minha avó.
Francisco, com os seus quase 50 anos e a bela Piedade, analfabeta e menor de idade.
O meu avô encantou-se pela afilhada e empregada.
Agora, conseguem entender quando falei em ambiguidades?
Bem, mas calma, Francisco tem mais controvérsias, sem ser esse encantamento quase pecaminoso.
Ainda jovem, viu-se confrontado com um crime que não cometeu, e prisão, não fazia, de todo, parte dos seus planos.
A sua freguesia foi vítima de um incêndio de grandes proporções nas suas serras.
Por infortúnio, o meu avô havia sido visto a fazer uma pequena fogueira, precisamente no mesmo dia. Naquela época, bastava isso, uma testemunha ocular e a falta do verdadeiro culpado.
A partir daqui, caminhamos para o lado mais surreal.
Ele não queria ser preso, sentimento mais do que legítimo de quem é inocente, sendo que a única opção que surgiu, foi esconder-se. Apesar de toda a gente pensar que havia fugido da terra.
A família estava do seu lado, e tudo fez para o manter a salvo das autoridades e consequentemente da prisão.
Durante sete anos da sua vida, viu-se preso na sua própria casa e sem perspectivas de futuro.
A família cavou um buraco no chão da cozinha, onde apenas cabia uma cadeira e uma luz.
Com amigos nas freguesias vizinhas, nomeadamente, em Ponta Delgada. Cada vez que se avistava a polícia, por aquelas bandas, logo Francisco era avisado.
E nesse preciso momento, voltava ele para o buraco, preso na sua solidão e com a injustiça no peito, a fervilhar.
Durante sete anos, o meu avô não fez outra coisa senão isso, esperar pela justiça, ainda que tardasse.
Nos dias sem perigo, andava pela casa, mas isso não compensava a tristeza, de saber, que mais cedo ou mais tarde, voltaria para debaixo do chão da sua cozinha.
Pelo povo, surgiam rumores, boatos, o que teria sido feito de Francisco Carvalho?
Havia quem dissesse, que estava escondido numa pipa, ou pelo menos, teria sido transportado numa.
Não passavam de boatos, o certo, é que se mantiveram no tempo, e ainda há gente, hoje, que acredita em tal facto.
E por onde andava o culpado? Perguntam vocês, certamente. O culpado era cobarde, e o medo da prisão era bem maior que a culpa, de obrigar um inocente a perder a sua liberdade.
Todavia, no leito da sua morte, a consciência chamou-o à razão, o coração precisava libertar-se dessa culpa, e assim o fez.
O meu avô, estava finalmente livre. Mas, aparecer ao povo, saindo da porta da sua casa, parecia estranho, como se Francisco tivesse enganado a todos, e por tanto tempo. Não, ele arranjou uma forma bem mais ousada para ressurgir à sua terra.  
Veio de barco, com a sua barba por fazer, tal fugitivo que era, olhar injustiçado mas feliz. O povo aplaudiu-o. Recebeu-o com alegria. Principalmente, a longa lista de compadres.
Voltava à vida, que tinha deixado para trás, por imposição.
Trazia consigo, longos anos de reflexão, e muitos versos escritos, quando confinado àquele minúsculo esconderijo.
Sim, depois desta fase surreal e agreste, então surgiu Piedade.
Nesta altura, o mais óbvio, era que Francisco aproveitasse os prazeres carnais, como todos os outros senhores, era uma empregada, tal prática era comum.
Porém, Piedade era bela, um sorriso quente, um olhar furtivo, longos cabelos escuros, uma pele suave e um corpo exuberante.
O certo é que o meu avô, não era como os outros senhores. Encantou-se pela empregada e criou conflitos na sua família, mas fez o que o coração lhe pediu.
Esperou que atingisse a maioridade, e durante esse tempo, sem egoísmo algum, forneceu-lhe os estudos que lhe faltavam, numa escola privada, de freiras.
Piedade era inteligente, não foi difícil aprender.
Tanta carta trocada, tanta atenção, saudade, carinho. Não sei se amor também, temo que a minha acepção de amor seja diferente.
Francisco, superava assim, algumas barreiras. Piedade era plebeia, mas agora, era uma jovem estudada. Ainda assim, restava outra ambiguidade e limitação.
Piedade, era sua afilhada e a Igreja não permitia tal união. Desrespeitava os valores da moral.
Contudo, naquela época, por dinheiro, a Igreja, quase sempre abria excepções.
Tal como o período de abstinência na quaresma, os ricos que pagassem, podiam continuar a comer carne, o mesmo aconteceu neste caso.
Francisco pagou e no mesmo instante, já não era pecado casar com a afilhada.
Sabendo agora da história, é fácil deduzir o porquê de não ter conhecido o meu avô. A larga diferença de idades. Infelizmente, partiu sem conhecer o último filho e nenhum neto.
Apesar da distância temporal, sinto-o intimamente ligado a mim, é o mesmo sangue que corre nas minhas veias, que outrora correu nas dele.
Não existem recordações físicas, mas perduram as memórias intemporais, as histórias que viveu e toda a sua linhagem.
Francisco, apesar da aparência sisuda e austera, foi um homem apaixonado. E a vida, faz mais sentido, quando somos capazes de amar.
Obrigada avô pela tua existência e pela tua coragem.

© Alexandra Carvalho

Baseado numa história verídica.



Sentir

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Não se cala a voz,
É projectada nos meus ouvidos
E na minha mente, cada vez mais.
Não existem verdades, mentiras,
Que me satisfaçam,
E que me satisfaz afinal?
Provocar-me, talvez…
Perder-me, encontrar-me…
Talvez, apenas sentir,
Só quero sentir, e pouca coisa
Me dá isso…
Certamente, ninguém me dá isso.
Ninguém que eu queira,
Ou não deixo,
Ou terei deixado erradamente.
Aparece, encontra-me
E faz-me sentir…

© Alexandra Carvalho

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Amor nas entrelinhas


Poderia desejar muito mais,
Mas bastou-me o sorriso.
Não sou capaz,
Quero-te em silêncio,
E não sou capaz porquê?
Que barreiras criei eu à tua volta?
Racionalizo a tua presença,
Mas esmoreço com o teu olhar moreno;
Com a suavidade das tuas palavras.
Talvez jamais te sinta meu,
Mas manterei o teu sorriso,
E isso bastará por toda a vida!

© Alexandra Carvalho

Clinomania


Dói-me a cabeça…
A clinomania dominou-me.
Ah! Esta vida que nos
Empurra para caminhos
Indesejáveis…
Gosto mais do tempo
Que passo a satisfazer
A minha mania, do que
Olhando em volta.
A sociedade ignóbil,
Que nada me atrai.
Dói-me a cabeça,
Mas não de pensar;
Dói-me a cabeça
De tanto querer esquecer
A vida que não me satisfaz.

© Alexandra Carvalho