A dias do Natal de 2021 é impossível não relembrar o de 2020. E não por causa da covid, que separou famílias e diminuiu jantares de amigos.
Para nós, residentes em Ponta Delgada e Boaventura, a nossa memória remete para a tragédia que assolou a nossa terra nesse dia.
Muitos passaram a noite de Natal em casas de familiares, amigos ou em alojamentos hoteleiros. A minha família foi uma delas. A sensação de incerteza era atroz. Estávamos juntos e isso era de facto o mais importante, o núcleo duro familiar não havia se separado, mas não sabíamos se o amanhecer iria devolver intacta a nossa casa, a nossa história e tudo o que vivemos nela. Felizmente, e depois de uma noite difícil, de sobressalto a cada carga de água que ouvíamos, acordamos, e numa imagem televisiva estava ela lá, a nossa casa. Nem todos tiveram a mesma sorte.
O dia de Natal, para muitos, é triste, ou porque a família está cada vez mais pequena, ou porque perderam recentemente entes queridos ou porque as emoções de amor são de tal forma avassaladoras que os sentimentos são desconexos, entre a alegria e a tristeza.
Agora, e talvez, todos os natais vindouros, haverá um sentimento dúbio. Por um lado, gratidão, porque apesar de toda aquela desgraça não tivemos perdas humanas, mas também, tristeza pelo que vivenciamos, pelos danos materiais, pelas coisas que uma vida, naturalmente e com muito esforço, acumula.
Acredito que não podemos estar presos ao passado nem aos eventos maus, mas precisamos aprender com eles. Não deixar por descaso que voltem a acontecer.
A Natureza é enorme e sabe sempre o que faz, cabe ao ser humano, aprender alguma coisa com ela, respeitá-la e respeitar indubitavelmente o próprio ser humano.
Que este Natal seja sereno para todos e que a união prevaleça como o sentimento que não deve morrer em nenhum dia da nossa vida.
Sejamos empáticos com o outro, saibamos compreender a dor dos outros e por todo o lado onde passemos, que o amor seja o que fica quando formos embora.
© Alexandra Carvalho