terça-feira, 14 de dezembro de 2021

O Natal de 2020

          

A dias do Natal de 2021 é impossível não relembrar o de 2020. E não por causa da covid, que separou famílias e diminuiu jantares de amigos. 

Para nós, residentes em Ponta Delgada e Boaventura, a nossa memória remete para a tragédia que assolou a nossa terra nesse dia. 

Muitos passaram a noite de Natal em casas de familiares, amigos ou em alojamentos hoteleiros. A minha família foi uma delas.  A sensação de incerteza era atroz. Estávamos juntos e isso era de facto o mais importante, o núcleo duro familiar não havia se separado, mas não sabíamos se o amanhecer iria devolver intacta a nossa casa, a nossa história e tudo o que vivemos nela. Felizmente, e depois de uma noite difícil, de sobressalto a cada carga de água que ouvíamos, acordamos, e numa imagem televisiva estava ela lá, a nossa casa. Nem todos tiveram a mesma sorte.  

O dia de Natal, para muitos, é triste, ou porque a família está cada vez mais pequena, ou porque perderam recentemente entes queridos ou porque as emoções de amor são de tal forma avassaladoras que os sentimentos são desconexos, entre a alegria e a tristeza. 

Agora, e talvez, todos os natais vindouros, haverá um sentimento dúbio. Por um lado, gratidão, porque apesar de toda aquela desgraça não tivemos perdas humanas, mas também, tristeza pelo que vivenciamos, pelos danos materiais, pelas coisas que uma vida, naturalmente e com muito esforço, acumula.  

Acredito que não podemos estar presos ao passado nem aos eventos maus, mas precisamos aprender com eles. Não deixar por descaso que voltem a acontecer. 

A Natureza é enorme e sabe sempre o que faz, cabe ao ser humano, aprender alguma coisa com ela, respeitá-la e respeitar indubitavelmente o próprio ser humano. 

Que este Natal seja sereno para todos e que a união prevaleça como o sentimento que não deve morrer em nenhum dia da nossa vida. 

Sejamos empáticos com o outro, saibamos compreender a dor dos outros e por todo o lado onde passemos, que o amor seja o que fica quando formos embora. 

 

© Alexandra Carvalho

segunda-feira, 15 de novembro de 2021


 Não penses em mais nada.

Põe a música a tocar, dança se quiseres,

Mas não penses em nada.

Por vezes, é só isso que basta.

Um encontro com o teu eu,

Livre de todas as amarras

Que a tua sociedade impõe.

Dança para ti, sorri para ti e agradece.

Esta vida é a que escolheste,

Nem mais nem menos.

Todas as coisas boas,

Todas as coisas menos boas.

Aproveita cada dia, cada sorriso que te dão,

Que tu dás.

Não tenhas medo de viver.

Ouve a música e deixa que ela te leve.

 

© Alexandra Carvalho

domingo, 4 de abril de 2021

E um ano já foi embora


Tenho estado longe. As palavras parecem não querer falar comigo nem com mais ninguém.

Um ano de pandemia e sinto que já atingi o meu limite. Não sei se estou cansada de fazer sempre o mesmo, de ver sempre as mesmas pessoas ou se é de mim que estou cansada.

A cada dia que passa sinto-me cada vez mais uma escrava dos tempos modernos.

Não temos direito a muita coisa. Permitem-nos ir trabalhar e voltar a casa, e todos os dias são iguais.

Vem o fim-de-semana, tão depressa começa, tão depressa acaba.

E tudo é justificado pela pandemia.

Que cansada estou de ouvir falar nela.

Que tudo se resuma a isso. E a vida? Onde está? Em que ponto ficou?

Que sonhos ainda podemos ter? E será que existirá tempo para os concretizar?

Nada se faz, tudo se atrasa, em nome de um vírus que nos pode levar do plano terreno.

E se antes dele, não for outra coisa qualquer? Deixamos o tempo passar, à espera de uma normalidade que todos desejamos, mas que ainda não conseguimos ter.

E um ano já foi embora.

Quantos mais irão?

 

© Alexandra Carvalho

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 


Percebi recentemente que somos peças de um jogo estranho.

Andamos aqui a acordar a cada dia, numa tamanha ingenuidade.

Não controlamos nada. O que se passa à nossa volta, o que nos acontece nem tão pouco controlamos a nós próprios.

A vida faz o que quer connosco. Tal marionetas que somos!

Umas vezes proporciona coisas boas e outras vezes, prega-nos rasteiras para nos relembrar a impotência.

Não podemos fazer mais nada, além do que a vida deixa.

Mas vamos andando por aqui, aceitamos com mais ou menos ânimo leve, viver cada dia, cada tropeço, cada dor, cada desilusão, cada evento bom.

E quando vem um evento bom aproveitamos, quase que esquecemos tudo o que de mau nos aconteceu.

Depois volta tudo, quando mais uma vez o Universo traz o que não deveria trazer.

Tento não pôr na balança, coisas boas versus coisas más, temo que não ganhe o mais favorável.

Sim, a vida sabe o que faz. Não traz nada que não possamos suportar. Nem o faz prematuramente, é sempre tudo no tempo certo.

Chico Xavier disse “Quando o servidor está pronto, o serviço aparece.” Transporto comigo essa frase e adapto para tudo.

Uma carga difícil só aparece quando estamos preparados para carregá-la.

Lembrar disso, é o que faz querer acordar todos os dias no meio de adversidades e de turbulência.

 

© Alexandra Carvalho