Fotografia de Rita Escórcio |
Levei tempo a processar os meus
sentimentos. Tinha quase como certo que te tinha superado, que havia chorado
todas as lágrimas que me poderias provocar. Não chorei. Fui mascarando com
sorrisos disfarçados, com certezas que afinal não eram fidedignas.
E o meu coração ficou amargurado.
Fugi até das palavras, elas
levavam-me até ti, sabes? Eu não queria falar sobre ti. Que ingénua fui.
Evento atrás de evento, ou o teu
nome ou a tua presença, confrontavam-me com factos, com a realidade. Alexandra,
chora! Processa a dor!
Hoje disseram-me algo muito
assertivo, “tu ainda não perdoaste, por isso é que ainda sofres”. E não perdoei
a quem? A ti, por defraudares as minhas expectativas, ou a mim, por
inequivocamente, me ter ludibriado com um sentimento inexistente?
Processei hoje, muito mais esta
dor, do que lá atrás, quando a constatei.
Amanhã, saberei ver-te a passar
ao lado, na estrada que continua a ser apenas minha, na estrada que tu apenas
passas.
© Alexandra Carvalho